1ª Câmara Criminal da 2ª Turma do TJBA emite Moção de Pesar em memória da diplomata Marcela Maria Nicodemos, chefe do Itamaraty na Bahia

No registro de 18 de março de 2014, em Kigali, a embaixadora do Brasil Marcela Maria Nicodemos apresentava as credenciais à Paul Kagame, presidente de Ruanda.
No registro de 18 de março de 2014, em Kigali, a embaixadora do Brasil Marcela Maria Nicodemos apresentava as credenciais à Paul Kagame, presidente de Ruanda.

Em sessão virtual ocorrida nesta terça-feira (17/05/2022), os desembargadores membros da Primeira Câmara Criminal da 2ª Turma do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) aprovaram ‘Moção de Pesar’ em memória da diplomata Marcela Maria Nicodemos, chefe do Itamaraty na Bahia, falecida aos 69 anos, no dia 9 de maio de 2022, em Salvador.

A iniciativa da homenagem póstuma foi do desembargador Baltazar Miranda Saraiva e contou com a adesão dos desembargadores Pedro Augusto Costa Guerra, presidente em exercício da 1ª Câmara Criminal da 2ª Turma do TJBA; Soraya Moradillo Pinto e Abelardo Paulo da Matta Neto, além da procuradora de Justiça Luiza Pamponet Sampaio Ramos, integrante do Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA).

Confira Moção de Pesar em memória da embaixadora Marcela Maria Nicodemos, chefe do Itamaraty na Bahia

— A chefe do Escritório do Itamaraty na Bahia, Marcela Maria Nicodemos, com contribuição decisiva para a defesa do interesse nacional, sem abrir mão de seus valores humanistas e do compromisso com a justiça social, ingressou na carreira diplomática em 1976. Atuou nas áreas política e econômica, chefiou setores de promoção comercial e administração em postos no exterior, mas foi sobretudo sua atuação nos foros multilaterais que a projetou. Desempenhou papel fundamental na área ambiental, atuando como representante governamental e perita em temas relacionados à Convenção sobre Diversidade Biológica e Protocolo de Montreal.

— Chefiou por diversas ocasiões a delegação brasileira às sessões da Comissão sobre o Status da Mulher da ONU (CSW), escreveu uma tese pioneira e corajosa do Curso de Altos Estudos (CAE) em 2005 intitulada “As Nações Unidas e a Promoção dos Direitos da Mulher: retórica ou realidade?”, atuou como delegada na área de direitos humanos, assuntos sociais e assistência humanitária na Missão do Brasil junto à ONU. Mais recentemente, chefiou as Embaixadas do Brasil na Armênia e no Quênia. Em Nairóbi, além de cuidar das relações bilaterais, foi representante junto ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e ao Programa das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (ONU-Habitat).

— Em sua belíssima mensagem, “Um Adeus a Marcela”, o diplomata Benoni Belli, e grande amigo de Marcela, escreve o seguinte: “Partiu prematuramente, no dia 9 de maio, a minha querida amiga Marcela Nicodemos, que estava chefiando o Escritório do Itamaraty na Bahia. Marcela ingressou na carreira diplomática em 1976 e teve uma trajetória diversificada. Discreta, sempre evitou os holofotes. Mas quem a conheceu sabe que se tratava de uma diplomata excepcional, altamente capacitada e que deu contribuição decisiva para a defesa do interesse nacional por onde passou, sem nunca abrir mão de seus valores humanistas e do compromisso com a justiça social. Amiga leal, mãe amorosa, esposa dedicada, deixará muitas saudades. Perda irreparável para familiares e amigos. Perda irreparável para o Brasil. Marcela certamente merece ser mais conhecida, inclusive entre as novas gerações do Itamaraty. Ela serviu em diferentes continentes (Américas, Europa, África), atuou nas áreas política e econômica, chefiou setores de promoção comercial e administração em postos no exterior, mas foi sobretudo sua atuação nos foros multilaterais que a projetou. Ela, de fato, se sentia particularmente à vontade no multilateral. Negociadora habilidosa, todos a queriam ter como aliada. Desempenhou papel fundamental na área ambiental, atuando como representante governamental e perita em temas relacionados à Convenção sobre Diversidade Biológica e Protocolo de Montreal. Além disso, foi sem sombra de dúvidas a maior autoridade sobre direitos da mulher no Itamaraty. Chefiou por diversas ocasiões a delegação brasileira às sessões da Comissão sobre o Status da Mulher da ONU (CSW), escreveu uma tese pioneira e corajosa do Curso de Altos Estudos (CAE) em 2005 intitulada “As Nações Unidas e a Promoção dos Direitos da Mulher: retórica ou realidade?”, atuou como delegada na área de direitos humanos, assuntos sociais e assistência humanitária na Missão do Brasil junto à ONU. Mais recentemente, chefiou as Embaixadas do Brasil na Armênia e no Quênia. Em Nairóbi, além de cuidar das relações bilaterais, foi representante junto ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e ao Programa das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (ONU-Habitat).

— Marcela integrou a equipe que, sob liderança de José Augusto Lindgren Alves, deu início ao Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais, em 1995. Era uma época de grandes passos para a plena inserção do Brasil nos sistemas interamericano e universal de direitos humanos. Marcela foi figura de destaque, chefiando a Divisão de Temas Sociais. Eu a conheci naquela época e pude constatar em primeira mão sua competência e brilhantismo. Em 1996, participei como Terceiro Secretário da delegação brasileira à conferência da ONU sobre assentamentos humanos em Istambul. Marcela foi um dos pilares da organização da participação brasileira na conferência e peça fundamental nas negociações. Foi impressionante o reconhecimento que ela angariou junto a especialistas, acadêmicos, membros da sociedade civil, representantes eleitos e delegados de outros países. Ver Marcela atuando foi para mim uma grande escola de diplomacia multilateral. Tive ainda o privilégio de trabalhar ao lado dela entre 1999 e 2001 em Nova York. Atuávamos na mesma área, a Terceira Comissão, que é encarregada dos temas sociais e de direitos humanos. Marcela acabou se voltando mais para direitos da mulher e direitos da criança, entre outros temas, mas seu conhecimento extrapolava em muito o seu portfólio. Era uma referência obrigatória não apenas para os delegados de outros países, mas também para o secretariado da ONU, que não ousava escrever relatórios sem ao menos ouvir o que Marcela tinha a dizer. Certa vez, eu a apelidei de Rainha da Terceira Comissão, apelido que ela rejeitava por modéstia, mas que refletia o grau de projeção e reconhecimento que adquiriu junto a colegas na Missão do Brasil, diplomatas estrangeiros, burocratas da ONU, integrantes do governo brasileiro e organizações não-governamentais. Marcela era uma amiga muito especial. Trocávamos mensagens, artigos interessantes, dicas de livros. Nunca deixei de aprender com as suas observações e análises geniais, ditas como de hábito em tom de simplicidade, de maneira despretensiosa. Em diversos momentos, contei com seus conselhos, inclusive quando tive de tomar decisões importantes sobre rumos a seguir. Generosa, sempre me elogiava além da conta e do razoável. Chorei quando despedi Marcela em Nova York, no dia de sua partida do posto para outra missão no exterior. Choro hoje com essa partida definitiva, irremediável. Mas a sua memória e seu exemplo permanecerão iluminando meu caminho, bem como de tantos outros que tiveram a sorte de com ela conviver. E, espero sinceramente, também de novas gerações de diplomatas, em particular mulheres, que devem ter nela uma fonte de inspiração e modelo de dedicação ao país. Um abraço solidário a Mario, seu companheiro de toda a vida, aos filhos Marcelo e Rodrigo, à nora Moraima e aos netos Sofia e Bruno.”

— A diplomata, aos 69 anos, deixa seu marido, a nora, dois filhos e dois netos. A cerimônia de cremação aconteceu no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador, na sexta-feira (13/05), às 11h30, com velório sendo iniciado às 9h. Que seja dado conhecimento da presente Moção à sua família, ao Itamaraty e ao Corpo Consular na Bahia, enviando-lhe esta singela homenagem em nome do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.”

— Aprovada a presente Moção de Pesar, à unanimidade, pelos integrantes da Primeira Câmara Criminal – 2ª Turma do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, associando-se à presente a Excelentíssima Senhora Procuradora de Justiça Luiza Pamponet Sampaio Ramos, determino as comunicações de estilo, bem como sua publicação no Diário da Justiça Eletrônico, para conhecimento de toda comunidade jurídica. Cidade do Salvador, 17 de maio de 2022.

— Desembargador Pedro Augusto Costa Guerra, presidente em exercício da Primeira Câmara Criminal – 2ª Turma do TJBA

No registro de 18 de março de 2014, em Kigali, a embaixadora do Brasil Marcela Maria Nicodemos apresentava as credenciais à Paul Kagame, presidente de Ruanda.
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Tributo ‘Sans Adieu’ à embaixadora Marcela Nicodemos | Por Miriam de Almeida Souza

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10730 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.