MRE da Rússia define como ‘fake news’ situação do ataque em Bucha, na Ucrânia

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, definiu a situação em torno de Bucha, na Ucrânia, como "fake news".
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, definiu a situação em torno de Bucha, na Ucrânia, como "fake news".

Hoje, segunda-feira (04/04/2022), durante a reunião com o vice-secretário-geral da ONU, o chanceler russo apontou que não param as tentativas de politizar e até de especular em torno das questões humanitárias na Ucrânia. Segundo ele, o incidente em Bucha foi encenado, quando os militares russos saíram da cidade.

A Rússia vê tais provocações como “uma ameaça direta à segurança internacional”, disse Sergei Lavrov.

“Nós exigimos a realização urgente de uma sessão do Conselho de Segurança para tratar desta questão concreta, pois vemos em tais provocações uma ameaça direta à paz e segurança mundial”, afirmou.

Lavrov declarou que a Ucrânia e seus apoiadores do Ocidente “divulgam” vídeos falsos de Bucha na mídia e nas redes sociais.

“Há poucos dias, outro ataque falso foi encenado na cidade de Bucha, na região de Kiev, depois que os militares russos deixaram o local conforme o plano”, declarou Lavrov.

De acordo com Lavrov, “lá, depois de alguns dias foi feita uma encenação, que está sendo divulgada em todos os canais e redes sociais por representantes ucranianos e seus patrocinadores ocidentais”.

A encenação em Bucha está sendo usada para fins antirrussos, afirmou Lavrov.

“Os militares russos deixaram completamente a cidade no dia 30 de março, no dia 31 de março o prefeito da cidade declarou solenemente que tudo estava em ordem, mas dois dias depois nós vimos como nas ruas foi organizada essa mesma encenação que agora estão tentando usar para fins antirrussos”, afirmou.

Kiev e veículos de imprensa ucranianos estão divulgando imagens, supostamente capturadas na cidade de Bucha, no norte da Ucrânia, mostrando corpos de indivíduos alegadamente mortos. Kiev colocou a culpa na Rússia, enquanto Moscou criticou as acusações, afirmando que suas tropas saíram desta região há dias.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, criticou as acusações feitas contra a Rússia sobre a situação em Bucha, cidade ucraniana que fica perto de Kiev. Ele disse ainda que esse assunto será discutido em reunião da Organização das Nações Unidas (ONU).

Por que a versão ucraniana sobre ‘massacre’ em Bucha é inconsistente

Especialistas afirmam que “peças não se encaixam” na versão de Kiev sobre situação na cidade de Bucha. Eles questionam veracidade dos fatos e criticam cobertura ocidental enviesada sobre o conflito.

É cada vez maior a campanha de Kiev para taxar a Rússia como vilã em uma história muito mal contada. Com a reprodução – e a conivência – da mídia ocidental, o capítulo deste domingo (3) pela versão ucraniana relata que forças russas promoveram um “massacre” na cidade de Bucha, a 25 km da capital.

A suposta denúncia foi feita por meio de diversos vídeos divulgados pelas autoridades e mídia ucranianas, onde aparecem centenas de corpos jogados ao chão pela cidade, alguns com sinais de tortura. Porém, algumas imagens mostram vítimas com um lenço branco amarrado ao braço, um suposto símbolo de identificação de não agressão. Vale destacar que os soldados russos também usam um lenço branco ou vermelho para se identificar no terreno, enquanto os soldados ucranianos utilizam um lenço azul ou amarelo. Depois da retirada das tropas russas de Bucha já surgiu um vídeo no qual um membro das tropas ucranianas durante a limpeza do perímetro pergunta aos companheiros “lá tem rapazes sem lenços azuis, posso atirar neles?” e recebe resposta positiva.
Em um dos vídeos, usuários também notaram que um dos “cadáveres” alegadamente retira o braço para não ser esmagado por rodas de veículos militares ucranianos.

Além disso, as tropas russas deixaram Bucha na última quarta-feira (30/03), um dia após a rodada de negociações entre Moscou e Kiev na Turquia.
Em 31 de março, o prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk, confirmou em discurso de vídeo que não havia mais nenhum militar russo na cidade, sem mencionar civis assassinados pelas ruas e com mãos atadas.

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou, neste domingo (03/04), que fotografias e vídeos publicados por Kiev na cidade são mais uma provocação e encenação.

“Durante o tempo em que esta localidade esteve controlada pelas Forças Armadas russas, nenhum morador sofreu alguma ação violenta”, disse o ministério.

Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil sobre a situação questionaram a versão apresentada por Kiev e criticaram a postura da mídia ocidental na cobertura do conflito.

A professora Isabela Gama, especialista em teoria das relações internacionais e em segurança e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), afirma que “muitas peças não se encaixam na história”.

“Por que os militares russos deixariam corpos de vítimas de tortura à mostra de todos em um cenário que não está nem um pouco favorável à Rússia? E não faz sentido isso vir a público hoje, e ninguém ter visto antes [os corpos nas ruas]”, avaliou Gama.

A pesquisadora levanta a hipótese de que a Ucrânia pode estar buscando “forçar uma intervenção internacional” no país.

Neste caso, as negociações diplomáticas que correm em paralelo poderiam apenas servir como forma de ganhar tempo enquanto se tenta criar um clima de terror para viabilizar apoio militar mais amplo.

“Me parece mais uma guerra de narrativa, não é a primeira e, possivelmente, não será a última”, alertou.

O capítulo mais famoso desde o início da operação militar, anunciado como verdade por Kiev, foi o caso da “grávida de Mariupol”, alçado ao posto de símbolo da crueldade russa na Ucrânia pela mídia ocidental.

Na realidade, Marianna Vyshemirskaya, uma blogueira de moda da cidade de Mariupol, contou que não houve ataque aéreo à maternidade onde ela e outras grávidas estavam. O que se ouviu, segundo seu relato, foram explosões, antes de o prédio ser atingido.

Na ocasião, os russos ainda tentavam entrar na cidade e a mídia divulgou que o prédio havia sido alvo de ataque aéreo.

Detritos são vistos na zona de hospital de maternidade de Mariupol destruído enquanto a operação especial da Rússia na Ucrânia continua, Mariupol, Ucrânia, 9 de março de 2022.

Mídia ocidental escolheu lado e vai manipular’

O jornalista Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares e em relações internacionais, afirma que a situação em Bucha é mais “uma história mal contada” em meio a diversos casos sérios que não apareceram na mídia ocidental.

“Em Mariupol, as forças russas descobriram uma série de escravos e escravas sexuais, em que uma das vítimas teve a suástica pintada no peito. Ou seja, a mídia ocidental escolheu um lado e vai manipular a opinião pública”, criticou.

Ele lembra ainda que as organizações humanitárias ocidentais que acompanham de perto o conflito, principalmente na região de Donbass, são unânimes em dizer que “não houve nenhuma violação das leis internacionais por parte dos russos”.

“Os russo não romperam com leis de guerra, ao contrário dos ucranianos, que já atiraram na perna de pessoas, o que pode causar morte lenta e dolorosa”, relatou.

Nas imagens em Bucha, é possível notar que nenhum dos “cadáveres” que apareceram nas imagens publicadas pelo Governo Zelensky enrijeceu após os supostos quatro dias da morte. Não havia “manchas cadavéricas características” e o sangue das feridas não estava coagulado, indicaram análises.

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, “tudo isso confirma, irrefutavelmente, que as fotografias e imagens de vídeo de Bucha são mais uma encenação de Kiev para a mídia ocidental, como ocorreu em Mariupol com a maternidade, e também em outras cidades”.

O órgão denunciou ainda que “as ‘provas de crimes’ em Bucha surgiram apenas no quarto dia, quando agentes do serviço de inteligência da Ucrânia e representantes da televisão ucraniana chegaram à cidade”.

Espetacularização como base para mais sanções

Em crítica à cobertura ocidental do conflito, o especialista em relações internacionais Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), diz que divulgar somente uma versão da história “cerceia a população de tirar as próprias conclusões de qualquer tema, especialmente em um conflito regional que se transformou em evento de envergadura mundial no aspecto econômico”.

“A UE e os EUA jogaram por terra o discurso de defesa da liberdade de informação e dos direitos humanos. No primeiro caso, por obrigar a população em geral a possuir só uma visão do conflito e, no segundo, por desprezar violações históricas dos direitos humanos contra palestinos, iraquianos afegãos e iêmitas, por exemplo”, lembrou.

O especialista lamenta a “espetacularização de episódios”, sem qualquer comprovação de autoria.

“Ganham divulgação mundial e, sem dúvida alguma, podem servir de base para mais represálias econômicas ou políticas. Além de acirrar os ânimos”, apontou.

A escalada de sanções impostas pelo Ocidente transformou a Rússia, de forma disparada, na nação mais sancionada do mundo, segundo a plataforma Castellum.ai, serviço de rastreamento de restrições econômicas no mundo.

No total, estão em vigor 8,068 medidas restritivas contra a Rússia, segundo os cálculos do site. A quantidade é quase o dobro das 3.616 sanções impostas pelo Ocidente ao Irã. Na sequência, aparecem a Síria (2.608), a Coreia do Norte (2.077), a Venezuela (651), Mianmar (510) e Cuba (208).

‘Pluralidade informativa é antídoto para fake news’

O pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (Nemp), Chico Sant’Anna, afirma que, em situações de conflitos armados, “além das balas, o que mais correm são as informações, nem sempre verdadeiras”. Segundo ele, “os grupos de mídia, grandes conglomerados econômicos, têm interesse político e econômico nesses conflitos”.

“A pluralidade informativa seria o antídoto para as fake news, mas as sanções econômicas do Ocidente rapidamente bloquearam canais de TV e sites informativos que não estão sob a tutela desse modelo informativo”, disse.

Os canais da Russia Today (RT) e da Sputnik Brasil foram derrubados pelo YouTube em todo o mundo, inclusive no Brasil no dia 11 de março. Antes, no dia 1º, o Google já havia decidido bloquear os canais do RT e Sputnik na plataforma de vídeos na Europa.

Facebook, Instagram e Twitter também restringiram o acesso a páginas e links de mídias estatais russas.

“Infelizmente, há muito tempo, organizações como a Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] deixaram de lado a pauta da liberdade de informar e de ser informado, do combate ao oligopólio informativo. Hoje em dia, a quase totalidade das informações consumidas no mundo é coletada, produzida e difundida por uma meia dúzia de empresas”, afirmou.

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10723 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.