
Ao casal amigo Miriam e cirurgião plástico Clerisvaldo de Almeida Souza!
Mais de uma vez já escrevemos neste espaço a respeito da importância da mentalidade predominante como fator determinante da prosperidade e bem-estar de famílias, empresas, instituições, grupos sociais e nações inteiras. Onde predomina uma mentalidade de abundância, o grupo prospera. Se predominar a escassez, o grupo tende ao estiolamento.
No Brasil, onde essa predominância tem variado, ao longo dos tempos, vivemos, na atualidade, um período de acentuada mentalidade de escassez, que já conta dezoito anos e meio, iniciado quando o então Ministro da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu, lançou acintosa e gratuita provocação ao afirmar, num jornal televiso matinal, em março de 2003, que o governo petista, havia pouco instalado, recebera uma “herança maldita”. Com isso, o lulismo inaugurava o maniqueísmo do nós (os bons), e eles os maus), que nos conduziu ao lamentável estágio em que nos encontramos, com uma suspensão de dois anos e meio, correspondentes ao Governo Michel Temer, marcante, também, por uma agenda reformadora de grande significado para a vida nacional.
Enquanto a mentalidade de abundância é presidida pela crença de que há no mundo bens suficientes para ensejar a felicidade geral, em que a prosperidade, bem-estar ou sucesso do outro não é entrave ao meu, antes tende a ser um fator ancilar do meu avanço, a mentalidade de escassez se orienta pelo princípio da soma zero: se alguém ganha, alguém, necessariamente, perde, diretriz que levou ao naufrágio a União Soviética e todos os experimentos socialistas, sem uma exceção, sequer. Vide Cuba, Coreia do Norte, Venezuela e China, até se converter ao Fascismo, a partir de Deng Xiaoping, em 1978. A força das sociedades abertas, de que nos falou Karl Popper, consiste, precisamente, na predominância, em suas práticas e costumes, da mentalidade de abundância, daí a prosperidade dos povos que a praticam, como as nações europeias, os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, a Nova Zelândia, a Austrália, a Coreia do Sul. No outro extremo, encontram-se as demais sociedades humanas, atrofiadas, em graus variados, pela mentalidade de escassez, caracterizada pela síndrome do caranguejo que não consegue escapar do cesto em que está preso, porque os demais o puxam para baixo.
A dinâmica das sociedades humanas sujeita-se à lei da física newtoniana segundo a qual “a toda ação corresponde uma reação igual, de sentido diametralmente oposto.” Não deu outra. Com o propósito de adonar-se do País, o lulismo transformou em política operacional o projeto de dividir a sociedade brasileira, sujeitando-a aos imperativos da mentalidade de escassez que conduziu ao estágio de acabrunhante antagonismo em que hoje se encontra, com amigos e familiares se estranhando e interrompendo uma convivência há pouco fraterna.
Tudo indica que estamos no limite de tolerância das tensões emocionais existentes no ambiente social brasileiro. De tal modo que, se forem ultrapassados, corremos o risco de perder o controle da situação e desembestar ladeira abaixo, a exemplo do que ocorreu com a Venezuela, país, não faz muito, invejavelmente rico.
Do ponto de vista substantivo, Bolsonaro tem razão em muitas das questões polêmicas que defende. Como já dissemos, é “uma pena que se movimente com a leveza de um elefante numa loja de cristais”.
Se não encontrarmos uma saída inteligente do impasse em que nos encontramos, poderemos mergulhar numa crise de intensidade e proporções imprevisíveis.
*Joaci Fonseca de Góes, advogado, jornalista, empresário e ex-deputado federal constituinte.