A importância da terceira via | Por Joaci Góes

Artigo debate o conceito de tríade e faz correlação com as Eleições 2022 do Brasil.
Artigo debate o conceito de tríade e faz correlação com as Eleições 2022 do Brasil.

Aos queridos sobrinhos Cylene e Joilson Góes Filho!

Ao longo da história, a humanidade tem aprendido que a saída dos constantes impasses que defronta, expressos na dilemática proposição shakespeariana do to be or not to be, reside, majoritariamente, numa terceira opção. A tríade, portanto, passou a presidir a busca da resolução dos conflitos individuais e coletivos. A começar pela criação do Espírito Santo como saída do conflito pai e filho, segundo Jung. Algo como a síntese para solucionar a escolha entre tese e antítese. Do mesmo modo, o hinduísmo já havia chegado à tríade Brahma, Vishnu e Shiva que representam a criação, a conservação e a destruição. A tríplice concepção freudiana do id, ego e superego seria dessa mesma índole, bem como a tríplice divisão da história em teológica, metafísica e positiva, segundo Augusto Comte, ou a teológica-intuitiva, racional e sensorial, segundo Pitirim Sorokin. O tríplice fator – intuição, desejo e racionalidade-, seria a base das teorias psicológicas e sociológicas, conclusão muito posterior à presença dos três deuses: Júpiter, Demétrio e Marte no Panteon Romano, simbolizando a soberania, a fertilidade e a guerra.

No plano pragmático, a antropologia se desenvolve em três linhas sucessórias: a patrilinear, a matrilinear e a bilateral, do mesmo modo que nossa identificação no mundo se expressa, no singular ou plural, do eu(nós), você(s), ele(s). É também tríplice nossa divisão do tempo: passado, presente e futuro. As casas reais só se digladiaram quando não dispuseram de uma terceira opção. De todo modo, a solução dos problemas humanos foi sempre encontrada em díades ou tríades, só excepcionalmente, acima disso, segundo motivações de natureza biológica, social e cultural, atuando isoladamente ou em conjunto de duas ou três.

Como a unicidade política é associada ao despotismo das ditaduras, a díade representa a restauração do equilíbrio que pode ser assegurado por uma terceira alternativa. A emergência de uma quarta, quinta ou sexta alternativa, para o bem ou para o mal, assegura a induzida polarização entre as duas forças componentes do dilema inicial.

No mundo da práxis, não há porque nos sujeitarmos ao imperativo das díades iniciais que tanto contribuíram para o desenvolvimento da inteligência humana, como a percepção da noite e do dia, da escuridão e da claridade, do bem e do mal, quente e frio, alto e baixo, grande e pequeno. Da percepção de nós e dos outros, nasceu o maniqueísmo nós e nossos inimigos, que conduziu à bipolaridade entre os valores, objetos, e entidades naturais e culturais.

O filósofo suíço Ferdinand de Saussure(1857-1913), de cujos estudos nasceu a linguística como ciência autônoma, de influência capital no campo da teoria da literatura e dos estudos culturais, reconheceu haver encontrado na capacidade humana, de dizer se algo é ou não é o que se examina, a base para a elaboração da teoria da linguagem. Foi Saussure quem propôs que a ciência dos signos, de que a linguística é parte essencial, fosse chamada de semiologia. Nesse diapasão, a grande maioria das guerras foi ferida entre dois povos, apenas. Quando os litigantes exorbitaram de dois, por litígio, os excedentes foram integrados às coalizões que se formaram, ocasionando a redução para dois de praticamente todos os contendores em 100% dos casos, como é da natureza dos conflitos.

Toda essa digressão vem a propósito do momento político, no Brasil, que aponta para a necessidade imperiosa da busca de uma terceira via para restaurar a boa convivência entre nós. Do modo de encarar a solução do perigoso impasse em que nos encontramos dependerão a paz e a prosperidade da família brasileira.

*Joaci Fonseca de Góes, advogado, jornalista, empresário e ex-deputado federal constituinte.

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