
Antes exemplo de controle de epidemias e campanhas de vacinação, o Brasil passou da “vanguarda para a retaguarda” e hoje é uma lição sobre o que não deve ser feito durante uma pandemia. Na contramão da queda diária de mortes registrada no mundo, o país bate seguidos recordes de óbitos pela covid-19 e deve ver esse número crescer por mais três a quatro semanas.
A análise é do epidemiologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que vem trabalhando com modelos de simulação computacional sobre o comportamento da pandemia e as medidas para combatê-la.
Em entrevista à DW, ele afirma que o Brasil está “sujando” o seu nome no debate sobre saúde pública, lembrando que em 2011 o país foi tema de uma edição especial da revista científica The Lancet que reconhecia seus méritos nas áreas de doenças infecciosas e de atendimento de emergência.
Questionado sobre as causas da piora recente da pandemia, ele aponta Jair Bolsonaro como o principal responsável: “Temos um presidente bastante popular e que é um comunicador eficaz, que tem boicotado as medidas (…) para conter a pandemia.”
Para Fortaleza, a variante de Manaus e as festas de fim de ano e no Carnaval contribuíram para acelerar o “caminho rumo ao caos”, mas não são a causa principal do recorde de mortes diárias, que chegou a 1.910 nesta quarta-feira (04/03). “As pessoas estão se aglomerando no dia a dia. A causa é o não cumprimento das medidas de distanciamento social (…) Infelizmente, a projeção é de que irá piorar”, diz.
Membro do Centro de Contingência contra a covid-19 do estado de São Paulo, ele afirma que a decisão de o governador paulista, João Doria, de colocar o estado inteiro na fase vermelha por duas semanas a partir do próximo sábado “demorou” para ser tomada, e critica a inclusão de templos religiosos no rol de atividades essenciais, que permite que continuem abertos. “Vários estudos mostram templos como locais de alta transmissão, as pessoas estão aglomeradas, muitas cantando”, diz.
*Com informações do DW.