
De acordo com a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), o risco da banalização e da apatia fica maior quando o próprio poder público não encara os incêndios nos ecossistemas brasileiros como tragédias. Ela cita o discurso que o presidente Jair Bolsonaro proferiu em setembro na Organização das Nações Unidas (ONU).
— Culpar índios e caboclos [pelo fogo na Amazônia] é algo absurdo — afirma a senadora. — A comunidade indígena, na realidade, é hoje uma das que mais contribuem com a proteção ambiental no país. O discurso negacionista do presidente é algo que deve trazer indignação.
Especialistas explicam que as condições climáticas deste ano estão na origem do excesso de incêndios. A estiagem e o calor foram particularmente severos. Mas não é só isso. Eles chamam a atenção para o fato de que o fogo não nasceu de forma espontânea, mas foi provocado pelo homem — e, muitas vezes, de forma criminosa.
No caso da Amazônia, o mais comum é que grileiros invadam terras públicas, derrubem a floresta e, para limpar o local, queimem as árvores acumuladas no solo. Depois de espalhar por essas terras algum gado ou iniciar um roçado, pleiteiam a regularização fundiária. Uma vez donos de terras até então públicas, podem vendê-las e lucrar.
O fogo ateado por grileiros, além disso, em vez de ficar apenas na área ilegalmente desmatada, pode acabar entrando na floresta.
— No ano passado, tivemos recorde de desmatamento na Amazônia. Com tantas árvores derrubadas, já prevíamos que neste ano teríamos recorde de incêndios. O fogo é a última etapa do desmatamento — explica a bióloga Erika Berenguer.
No caso do Pantanal, segundo especialistas, o mais frequente é a queima da pastagem do gado para eliminar o mato que cresce de forma indesejável. Quanto mais seca está a vegetação, maior é a chance de que o fazendeiro perca controle sobre o fogo.