

A apresentação de acusações criminais pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o jornalista estadunidense Glenn Greenwald é um caso cada vez mais familiar de atirar no mensageiro e ignorar a mensagem.
O Greenwald é mais conhecido por seu papel na liberação de documentos de segurança nacional vazados por Edward Snowden, o ex-contratante da Agência de Segurança Nacional, em 2013. No Brasil, onde se mudou há 15 anos para estar com seu agora marido, deputado brasileiro da oposição, Greenwald é cofundador da versão em português de seu site de notícias de investigação, The Intercept, que se tornou um espinho no lado do presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro.
Em junho passado, o The Intercept Brasil publicou uma série de artigos, baseados em mensagens de celular vazadas, que pareciam mostrar conluio ilegal com promotores por Sérgio Moro, o juiz que havia se tornado um superstar destruidor de corrupção por encarcerar dezenas de empresários e políticos, entre eles o popular ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Prender o Sr. da Silva o tirou da disputa para presidente, abrindo caminho para a eleição de Bolsonaro – que então nomeou o Sr. Moro como seu ministro da Justiça. Agora, além desse conflito implícito de interesses, as mensagens hackeadas sugeriram que o Sr. Moro havia violado a lei brasileira, a qual os juízes deveriam ser árbitros neutros, para ajudar o Sr. Bolsonaro. E isso por um homem anteriormente lionized por seu assalto à corrupção arraigada.
Mas o campo de Bolsonaro rapidamente se concentrou no Sr. Greenwald e não no Sr. Moro. Sr. Greenwald e seu marido, David Miranda, ficou uma enxurrada de ameaças de morte e ataques homofóbicos. A imprensa brasileira informou que a polícia federal, que está o sr. Moro, pediu ao Ministério das Finanças para investigar as atividades financeiras do Sr. Greenwald, e a polícia disse que havia iniciado uma investigação sobre a invasão de celulares que levou ao Vazamentos.
A queixa criminal de 95 páginas tornada pública na terça-feira disse que o Sr. Greenwald não só recebeu e escreveu sobre mensagens hackeadas, mas na verdade desempenhou um “papel claro na facilitação da prática de um crime.” Por exemplo, os promotores disseram que o Sr. Greenwald se comunicou com os hackers enquanto eles monitoravam bate-papos privados em um aplicativo de mensagens.
Os peritos legais e os políticos da oposição disseram que a evidência era fina. Uma investigação da Polícia Federal, que identificou e prendeu o hacker, já havia inocentado o Sr. Greenwald, e um juiz do Supremo Tribunal Federal havia declarado que a publicação das mensagens estava protegida pela Constituição Brasileira.
O Sr. Greenwald disse que tinha “exercitou extrema cautela como jornalista nunca sequer para chegar perto de qualquer participação” no hacking; ele também observou que a denúncia foi apresentada pelo mesmo promotor que já havia julgado, e não conseguiu, processar o chefe da ordem dos advogados brasileira por criticar o Sr. Moro.
Infelizmente, atacar uma imprensa livre e crítica tornou-se uma pedra angular da nova geração de líderes iliberais no Brasil, como nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo. Acusações de irregularidades são descartadas como “notícias falsas” ou calúnia politicamente motivada, e o poder do Estado é aproveitado não contra os funcionários acusados, mas contra o repórter.
*Titulo original ‘Brazil Calls Glenn Greenwald’s Reporting a Crime’.
*Editorial publicado pelo The New York Times (NYT), em 21 de janeiro de 2020.
*O conselho editorial do NYT é formado por grupo de jornalistas cujas opiniões são formadas por experiência, pesquisa, debate e certos valores de longa data. É separado da redação do veículo.