

Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), disse ao Ministério Público do Rio de Janeiro em depoimento escrito, entregue na quinta-feira (28/02/2019), que administrava os pagamentos do gabinete do então deputado estadual e garantiu que não havia irregularidades nos pagamentos dos servidores.
Queiroz foi convocado mais de uma vez pelo MP para prestar depoimento sobre a movimentação financeira atípica em suas contas verificada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mas não compareceu alegando problemas de saúde.
No depoimento escrito o ex-assessor de Flávio, filho do presidente Jair Bolsonaro, declarou que era o responsável por gerenciar o pagamento dos funcionários lotados no gabinete do então deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), mas que Flávio não tinha conhecimento sobre funcionamento.
Queiroz disse no depoimento escrito que gozava de confiança do então deputado e que foi escolhido para o cargo por ter atuação próxima a pessoas da área de segurança e polícia, grupos ligados à base eleitoral de Flávio.
O ex-assessor disse que “entendeu que a melhor forma de intensificar a atuação política seria a multiplicação dos assessores da base eleitoral, valendo-se, assim, da confiança e da autonomia que possuía para designar vários assistentes de base, a partir do gerenciamento dos valores que cada um recebia mensalmente”.
Sobre o movimento identificado pelo Coaf de 1,2 milhão de reais entre os anos de 2016 e 2017, Queiroz argumentou que isso seria referente a dinheiro recebido pela família uma vez que o salário de toda a família incluindo mulher e filhos era depositado em sua conta. Além disso, pela conta, segundo o ex-assessor, passavam também recursos provenientes de compra e venda de carros e eletrodomésticos.
Na avaliação de uma fonte próxima às investigações, que pediu para não ser identificada, o depoimento era frágil, pouco esclarecedor e inconclusivo.
“É um depoimento do tipo ‘não fede nem cheira’. O papel aceita qualquer versão”, disse a fonte. “Se por decisão judicial, o caso puder evoluir para uma quebra de sigilo fiscal e bancário podemos conhecer o verdadeiro perfil do cidadão e o que ele realmente fez”, acrescentou.
Procurado, o MP do Rio de Janeiro afirmou que o caso segue sob sigilo de Justiça e que as informações só poderão estar disponíveis se houver o levantamento do sigilo.
O advogado de Queiroz, Paulo Klein, disse à Reuters que o ex-assessor não “cometeu nem confessou nenhum crime”.
“O MP tem a sua visão, a argumentação pode ter sido considerada frágil porque ainda não é o momento de apresentar as provas. Vamos entregar as provas, uma defesa sólida e consistente para mostrar que não houve nenhuma ilicitude”, argumentou Klein.
PowerPoint da família Bolsonaro
Em reportagem, o Jornal Folha de São Paulo apresenta o PowerPoint da família do presidente Jair Bolsonaro. O veículo de comunicação revela relação da família Bolsonaro com Fabrício Queiroz e as milícias do Rio de Janeiro, segundo Jornal Folha de São Paulo.
Os personagens
Jair Bolsonaro, presidente da República
Michelle Bolsonaro, primeira-dama
Flávio Bolsonaro, Senador eleito
Fabrício Queiroz, policial militar aposentado e ex-motorista de Flávio Bolsonaro
Marcia Oliveira de Aguiar, esposa de Fabrício Queiroz
Evelyn Melo de Queiroz, filha de Fabrício Queiroz
Nathalia Melo de Queiroz, filha de Fabrício Queiroz e personal trainer
Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope
Raimunda Veras Magalhães, mãe de Adriano da Nóbrega
Danielle da Nóbrega, esposa de Adriano da Nóbrega
Milícia, organização criminosa
Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018.
As relações
Michelle Bolsonaro com Jair Bolsonaro: mulher de Jair Bolsonaro. Foi assessora do então deputado federal
Jair Bolsonaro com Fabrício Queiroz: amigos de longa data e a quem o presidente diz ter emprestado dinheiro (R$ 40 mil)
Jair Bolsonaro com Adriano da Nóbrega: na Câmara, em 2005, o então deputado federal defendeu Adriano, um “brilhante oficial”
Fabrício Queiroz com Michelle Bolsonaro: depositou cheque de R$ 24 mil na conta de Michelle, alegando pagamento de dívida
Fabrício Queiroz com Flávio Bolsonaro: motorista e assessor de Flávio Bolsonaro de 2007 a 15.out.2018
Fabrício Queiroz com Adriano da Nóbrega: o assessor foi colega de batalhão de Adriano da Nóbrega e pediu que Flávio Bolsonaro homenageasse Adriano na Alerj
Nathalia com Jair Bolsonaro: trabalhou para o então deputado em Brasília, apesar de estar constantemente no RJ como personal trainer
Nathalia com Flávio Bolsonaro: assessorou o então deputado estadual na Alerj
Evelyn com Flávio Bolsonaro: substituiu Nathalia como assessora do deputado na Alerj
Marcia com Flávio Bolsonaro: foi assessora de Flávio Bolsonaro, junto com Evelyn
Jair Bolsonaro com milícia: em 2008, criticou a CPI das Milícias, da Alerj, e disse que policiais estavam sendo confundidos com milicianos por organizar a segurança
Flávio Bolsonaro com milícia: na CPI de 2008, na Alerj, o deputado minimizou a gravidade das milícias e disse que “não raro é constatada” a felicidade em áreas dominadas por milicianos
Milícia com Marielle Franco: há suspeita de que a vereadora e o motorista Anderson Gomes foram mortos pela milícia que atua na zona oeste do Rio
Adriano da Nóbrega com Marielle Franco: seis testemunhas citam Adriano no caso da morte de Marielle, de acordo com The Intercept Brasil
Adriano da Nóbrega e milícia: foragido da polícia, o ex-policial é acusado de liderar o Escritório do Crime, milícia suspeita de ligação com as mortes de Marielle e Anderson Gomes
Fabrício Queiroz com Raimunda: a mãe de Adriano da Nóbrega é, segundo o Coaf, uma das pessoas que depositavam dinheiro na conta de Queiroz (R$ 4.600)
Fabrício Queiroz com Danielle: o assessor indicou a mulher de Adriano para o gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj
Flávio Bolsonaro com Raimunda: de 29.jun.2016 a 13.nov.2018, o então deputado estadual teve Raimunda como assessora de gabinete na Alerj
Flávio Bolsonaro com Danielle: a mulher do ex-PM também trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, de 2007 a 13.nov.2018
Flávio Bolsonaro com Adriano da Nóbrega: homenageou o ex-PM em out.2013 e em jun.2015 (Adriano estava preso na data), dando a ele a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Alerj
Jair Bolsonaro com Flávio Bolsonaro: pai chama o filho de 01
Ministério Público do RJ com Flávio Bolsonaro: investiga a movimentação financeira atípica de funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, com base no Coaf
Ministério Público do RJ com Fabrício Queiroz: investiga movimentações atípicas na conta do então assessor apontadas pelo Coaf e pode ajuizar ação penal.
*Com informações da Agência Reuters e do Jornal Folha de São Paulo.