Um outro aspecto fundamental neste imediato pós-eleitoral para grupos hegemônicos é a tentativa de influenciar nos contornos políticos do futuro governo e ao mesmo tempo enquadrar a oposição, em especial o PT. Assim, os editoriais dos principais jornais do pais, do PIG (Partido da Imprensa Golpista), como Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo reivindicam uma “normalização” e “respeito a soberania do voto e a constituição”, a necessidade de uma “oposição leal”.
Se por um lado, o PIG procura estabelecer em alguma medida um mínimo controle sobre o ímpeto de Bolsonaro, pressionando para aceitação pelo menos parcialmente das regras do jogo político do ” presidencialismo de coalização”. Os analistas da grande imprensa ao reivindicaram respeito aos paramentos constitucionais escamoteiam que estão sendo desmantelados os direitos constituições básicos inscritos na constituição de 1988, além do mais mencionam apenas lateralmente, mas sem discutir o verdadeiro significado, que cada vez mais os postos chaves do Estado brasileiro estão sobre o controle dos militares, aprofundando o caráter autoritário do regime, que indica que podemos, a depender da evolução dos acontecimentos, inclusive ter um golpe militar aberto.
É importante ressaltar que o processo sucessório do presidente golpista Temer foi feito através de uma manipulação absurda e de uma fraude eleitoral espetacular, que teve a prisão e impedimento da candidatura do ex-presidente Lula como um ponto chave. Um aspecto essencial dessa política é esconder que não houve eleição democrática, mas sim um mero jogo de cartas marcadas, para constituir um governo com um verniz de legitimidade para o prosseguimento e mesmo aprofundamento das políticas de ataques contra o povo, iniciadas com a derrubada da presidenta Dilma.
Durante o período eleitoral para que essa operação de encobrimento dos objetivos e métodos dos golpistas pudesse prosperar foi necessário que a próprio esquerda pudesse participar ativamente dessa farsa. Neste sentido, as ilusões eleitorais que o golpe ou o fascismo poderiam ser derrotados simplesmente através do voto, em processo marcado pelo controle dos golpistas das instituições e da eleição cumpriu um papel extremamente negativo.
É importante sublinhar que a política adotada pela candidatura do “plano B” do PT, em especial no segundo turno, foi de capitulação permanente. O golpe não foi mencionado, o juiz golpista (agora indicado como futuro ministro) Sergio Moro foi elogiado e Lula foi simplesmente abandonado. Até mesmo a prisão dos líderes petistas pela Operação Lava Jato foi justificada.
Depois de uma campanha suja, das manipulações e fraudes, o mínimo que se poderia esperar era que a esquerda não reconhecesse a vitória do candidato da “ barbárie” como foi classificado Bolsonaro pela campanha Haddad. Sem contar que o próprio PT entrou na justiça solicitando a impugnação de Bolsonaro, com base nas denúncias sobre caixa 2 , no episódio relatado pelo jornal Folha de São Paulo.
Entretanto, no dia seguinte da vitória do candidato da fraude e do golpe, Haddad de “ coração leve” desejou sorte para Bolsonaro, o que demostra que os discursos de que era preciso combater o fascista Bolsonaro, não passaram de mera demagogia eleitoral para arrastar a esquerda para uma política de capitulação ao golpe.
A campanha da imprensa política para legitimar os resultados eleitorais apresenta um aspecto mais abrangente visa evitar um transbordamento político, uma vez que a perspectiva é do aumento dos ataques do governo contra o povo, por isso é fundamental que a oposição seja “ leal” e que se restrinja a um espaço delimitado pelos donos do poder.
Por isso é fundamental denunciar que houve fraude e que Bolsonaro não tem o apoio da maioria da populacao, isso é apenas uma ficção construida para legitimar os ataques contra os trabalhadores. Contrapor a campanha da imprensa golpista pela ” aceitação da derrota” com uma luta política pelo Fora Bolsonoro, como parte de uma efetva luta contra os ataques do governo ilegitimo.
*Dr. Antonio Eduardo Alves de Oliveira, professor Ciência Política Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e colunista do Diário Causa Operária, possui graduação em Ciências Sociais (concentração em Ciência politica) pela Universidade Federal da Bahia (1995), mestrado em Ciências Sociais – UFBA (2002) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (2010). com período de bolsa de cooperação sanduíche em Foundation Nationale Des Sciences Politiques( Sciences PO-Paris). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Tem experiência na área de Ciência Politica. (E-mail para contato: antonioeduardo29@hotmail.com)