

O jornalista Arcírio Gouvêa Neto ao analisar a entrevista de Fernando Haddad, concedida na sexta-feira (14/09/2018) ao Jornal Nacional da Rede Globo, em que atuaram como entrevistadores Willian Bonner e Renata Vasconcellos, avaliou negativamente a atuação dos funcionários da Globo. “Uma coisa é você ter sua ideologia política na vida pessoal, outra coisa é você transportar essa ideologia à vida profissional, para seguir servilmente à determinação do — patrão”, disse Arcírio Gouvêa Neto.
Observa-se que as seguidas interrupções das respostas de Fernando Haddad se caracterizam como imposições das ideias da Rede Globo, através da desinteligente visão de mundo expressa por Willian Bonner e Renata Vasconcellos, resultaram em um espetáculo de como não conduzir uma entrevista.
Sobre a técnica da entrevista, o jornalista deve questionar, aguardar a resposta, apresentar interjeição ao argumento do entrevistado, aguardar o contraponto do entrevistado e seguir para o próximo aspecto da entrevista. Porque, o que se objetiva na entrevista é expor as ideias do entrevistado e possíveis falhas argumentativas com a finalidade apresentar, da melhor forma, o conjunto de ideais do entrevistado para o julgamento da opinião pública. Neste aspecto, Willian Bonner e Renata Vasconcellos protagonizaram patético espetáculo, expondo os egos pessoais e as visões distorcidas da Rede Globo sobre o mundo. Observa-se, também, que o veículo de comunicação tem histórico de atuação contra a democracia e, de forma consequente, contra os direitos humanos.
Confira comentário de Arcírio Gouvêa Neto
— Como jornalista, diretor da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e secretário de uma comissão de defesa da liberdade de expressão, me sinto envergonhado vendo o jornalismo brasileiro acabar de ser vilipendiado e ultrajado por Willian Bonner e Renata Vasconcellos nesta sessão de inquisição aos melhores moldes dos inquisidores da Idade Média. Isso não foi e jamais será jornalismo.
— Trabalhei em duas oportunidades no jornal O Globo, desfrutei da companhia de mestres do jornalismo da empresa e tenho certeza absoluta que mesmo os jornalistas do passado que lá trabalharam se vissem o que vi hoje estariam tão revoltados quanto eu. Uma coisa é você ter sua ideologia política na vida pessoal, outra coisa é você transportar essa ideologia à vida profissional, para seguir servilmente à determinação do patrão. Já vi muita gente boa se recusar a fazer um papel asqueroso como o dessa dupla essa noite e eu sou uma delas.
— Sinto pelo trabalho correto e ilibado de velhos companheiros que deram a vida pelo engrandecimento da imprensa em nosso país e não mereciam o que aconteceu hoje. Acho que o mínimo que poderia ocorrer em um estado democrático de direito é sua população se indignar com o que houve essa noite.
— Quem perde não é o PT e nem Lula ou Haddad é a liberdade do pensamento e da expressão de uma nação inteira.
— Uma noite pra ser esquecida, diria Carlos Heitor Cony.
Confira a entrevista
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/09/14/fernando-haddad-pt-e-entrevistado-no-jornal-nacional.ghtml