Eleições 2018: A volta da direita barulhenta

Deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Bloco conservador atua com intensidade na defesa dos ideais da autocracia, plutocrática e autoritária.
Deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Bloco conservador atua com intensidade na defesa dos ideais da autocracia, plutocrática e autoritária.
Deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Bloco conservador atua com intensidade na defesa dos ideais da autocracia, plutocrática e autoritária.
Deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Bloco conservador atua com intensidade na defesa dos ideais da autocracia, plutocrática e autoritária.

Em 2011, o então presidente do DEM, José Agripino Maia, disse que seu partido recusava a “pecha de direita”, apesar de a legenda ser descendente direta do bloco que dava sustentação ao regime militar. No ano seguinte, Paulo Maluf, uma das figuras civis mais identificadas com a ditadura, chegou a dizer estar à esquerda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

São exemplos de como, há poucos anos, se assumir como direita ou como conservador era visto como um suicídio político diante da hegemonia dos partidos de esquerda e centro-esquerda. Partidos identificados com a direita inseriam em seus nomes palavras como “social”, “liberal” e “progressista”.”Nos anos seguintes à redemocratização, a direita estava desmoralizada por suas próprias ações e a associação com a ditadura de 1964″, lembra Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp.

Em 2018, no entanto, uma nova direita tem chance de voltar à grande arena política brasileira e alcançar seu melhor resultado em uma eleição presidencial desde o fim do regime militar. E, em tempos de polarização política, desta vez a receita passa longe da moderação e da dissimulação.

Diferentes vertentes do movimento agora escancaram suas posições, especialmente em temas de lei e ordem e “defesa da família”, mostrando ainda um desprezo renovado pelas ideias de esquerda e pegando carona na crise política e na exasperação dos brasileiros com a corrupção.

A estrela desse movimento é o ex-capitão do Exército e deputado federal Jair Messias Bolsonaro, de 63 anos, que fala abertamente contra homossexuais, defende a posse de armas e a pena de morte e distribui elogios ao regime militar – a ponto de fazer apologia à tortura.

Ao contrário de outras figuras das últimas décadas, ele nunca se incomodou com o rótulo de direita ou até mesmo de extrema direita. Agora, ele parece ter encontrado as condições ideais para projetar seu nome nacionalmente após passar anos como um deputado desimportante do Congresso.

Com até 17% das intenções de voto para as eleições presidenciais de outubro, dependendo do cenário, Bolsonaro parece destinado a superar com folga marcas anteriores da extrema direita brasileira, como a votação do nacionalista Enéas Carneiro nas eleições presidenciais de 1994 (7,38%) e do fascista repaginado Plínio Salgado em 1955 (8,28%). Sem o ex-presidente Lula na disputa, o ex-militar lidera as pesquisas e, ao menos por enquanto, parece ter presença garantida em um eventual segundo turno.

“Bancada da metralhadora”

E Bolsonaro não está sozinho. Deputados que já externavam posições conservadoras parecem ter se distanciado definitivamente do seu passado como membros da base dos governos de esquerda do PT e amplificaram posições mais radicais. É o caso do senador Magno Malta (PR), pastor evangélico que é cotado como vice de Bolsonaro.

Em 2014, o Brasil elegeu seu Congresso mais conservador em décadas. Neste ano, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) aponta que o fenômeno será potencializado, com o aumento das bancadas evangélica, da bala e ruralista. Bolsonaro afirmou recentemente que quer ajudar a transformar a chamada bancada da bala – composta por deputados pró-armas, que defendem o endurecimento das leis penais – em uma “bancada da metralhadora”.

A mensagem de Bolsonaro ressoa especialmente entre os mais jovens, que parecem mais desencantados com a política e, ao mesmo tempo, nunca viram governos de direita radical no poder ou viveram numa ditadura. Segundo o Datafolha, 60% dos eleitores declarados de Bolsonaro têm entre 16 e 34 anos.

“Na história do Brasil, as três últimas décadas foram a exceção. A regra sempre foi ter uma direita barulhenta. Esses grupos nunca estiveram ausentes, só estavam mais silenciosos. Agora voltam a ter protagonismo diante desse quadro de insegurança jurídica e crise. Bolsonaro agora tem mais espaço para vender uma falsa lembrança da ditadura, um paraíso que nunca existiu”, observa Romano.

Internet como terreno fértil

Até o início do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2011, Bolsonaro era desconhecido da maior parte dos brasileiros. Aparecia ocasionalmente na imprensa por causa de alguma ação ou declaração controversa, mas sua fama era restrita aos meios militares e ao Rio de Janeiro, suas bases eleitorais como deputado.

Além da decadência do governo de Dilma Rousseff e do aumento da violência, o crescimento da ressonância nacional de Bolsonaro coincidiu com a expansão no Brasil de redes sociais como o Facebook e de aplicativos como o Whatsapp.

Sem o apoio da imprensa, da intelligentsia brasileira e do establishment político e econômico, as diferentes vertentes da direita acabaram encontrando na internet um terreno fértil para a propagação de ideias, boatos e ataques aos adversários. Segundo o Ibope, 68% dos eleitores brasileiros têm acesso frequente à internet. Dos eleitores de Bolsonaro, 90% têm acesso.

Segundo o Pablo Ortellado, coordenador do grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação (Gpopai-USP), o aumento da influência das redes, aliada ao cansaço dos brasileiros com a corrupção, criou um terreno fértil para essa nova direita.

“Nos últimos anos, a anticorrupção era um tema órfão, que não era assumido pelos partidos tradicionais. Essa nova direita capturou o tema a partir de 2013. Não há nada que indique que a luta anticorrupção é uma bandeira exclusivamente de direita – há países em que ela foi assumida pela esquerda –, mas eles têm explorado isso melhor. E eles aproveitaram ainda para que outras pautas, de combate aos direitos humanos, pegassem carona. Bolsonaro, por sua vez, já estava lá, disponível. As coisas convergiram para seu nome já que ele se encaixa nesse perfil”, disse.

Segundo Ortellado, o crescimento da influência da direita em tão pouco tempo é impressionante. “O PT levou 20 anos para montar uma rede assim. Apoiadores estão por todo o país”, disse.

Na internet, a receita de Bolsonaro e de outras páginas de direita é similar à adotada, por exemplo, pelo partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD), que no ano passado conquistou 12,6% dos votos nas eleições federais alemãs.

Em um memorando interno, a AfD creditou parte do seu sucesso ao ciclo repetitivo de declarações ultrajantes dos seus membros e à posterior reação negativa dos adversários. “Quanto mais eles tentam estigmatizar a AfD por causa de palavras provocativas ou ações, melhor para o perfil da AfD. Ninguém dá à AfD mais credibilidade do que nossos adversários políticos”, disse o documento.

No início de 2016, Bolsonaro contava com 2,7 milhões de fãs no Facebook. Hoje são quase 5 milhões no Brasil. O ex-presidente Lula conta com 3 milhões.

O cientista político Antonio Lavareda, por sua vez, aponta que essa nova direita também aumentou seu espaço com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “A falência da esquerda, iniciada com as grandes mobilizações para o impeachment de Dilma, abriu espaço para a vocalização dos posicionamentos assumidamente direitistas. A hesitação dos partidos de centro-direita, especialmente do PSDB, em aderir à tese do impeachment deixou também espaço aberto para que a ‘direita assumida’ finalmente colocasse a cara na cena pública”

Sem um plano de governo, Bolsonaro também se apoia em meras percepções. Muitos simpatizantes gostam de destacar que o deputado nunca se envolveu com corrupção, que nunca fez parte da máquina política tradicional, mesmo que ela já tenha sido flagrado no ano passado, por exemplo, contratando parentes para seu gabinete e montando uma dinastia política – três filhos têm mandatos.

Segundo Ortellado, esse é o principal capital do deputado, já que pesquisas mostram que muitos que embarcam na candidatura de Bolsonaro não compartilham a maior parte das ideias extremistas do deputado e de influenciadores da extrema direita na internet. “Há uma convergência em temas como a luta anticorrupção e na segurança pública, mas não nessa pauta contra os direitos humanos”, disse.

De fato, uma pesquisa do Datafolha de 2017 demonstrou que a maior parte da população compartilha de ideias associadas com a esquerda. Mais de 70% dos brasileiros, por exemplo, apontam que “homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade” e 77% acreditam que “boa parte da pobreza está ligada à falta de oportunidades iguais para que todos possam subir na vida”.

Partido nanico

Apesar dos bons resultados nas pesquisas, há dúvidas quanto à capacidade de Bolsonaro de manter a trajetória ascendente e estruturar uma campanha eleitoral eficiente. O deputado já se mostrou eficiente em propagandear sua imagem, mas até agora o barulho gerado vem sendo inversamente proporcional à sua real influência política.

Sua trajetória parlamentar nos últimos 30 é praticamente irrelevante. O deputado nunca foi um ator de destaque em negociações e articulações no Congresso e raramente é consultado por colegas e líderes partidários. Também nunca foi um cacique ou teve influência nas várias legendas a que se filiou.

Apesar das comparações frequentes na imprensa internacional, ao contrário do presidente americano, Donald Trump, Bolsonaro não tomou de assalto um grande partido, como o magnata fez com os republicanos. Bolsonaro vai disputar a Presidência pelo PSL, uma sigla nanica que teve um desempenho insignificante nos últimos 20 anos e vai largar inicialmente com apenas 10 milhões de reais do fundo eleitoral e oito segundos de tempo de TV.

No entanto, segundo Fernando Lattman-Weltman, professor de ciências políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), ainda é cedo para afirmar que um personagem como Bolsonaro e seu movimento estão mesmo fadados a perder.

“A percepção de que as elites políticas e econômicas têm o poder de barrar fenômenos como Bolsonaro se baseiam em antigos cenários, anteriores à crise política. Hoje é ingênuo apostar com toda a certeza de que ele será finalmente detido. Vamos ter a eleição mais imprevisível das últimas décadas”, disse.

Já para Lavareda, mesmo que Bolsonaro não chegue ao segundo turno, essa nova direita deve se fixar no sistema político a partir de agora. “Com Bolsonaro ou a partir dele, o nosso sistema partidário poderá vir a contar com uma nova força, um partido com ideologia assumida que vai dar representação clara a um segmento da opinião pública que sempre existiu, mas estava encapsulado em outras legendas.”

*Com informações de Deutsche Welle.

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