Ex-ministro e atual conselheiro do TCM Bahia, Mário Negromonte era qualificado como o político “mais achacador” no esquema de corrupção na Petrobras, afirma delator Alexandre Rocha

Ao centro da imagem o então ministro das Cidades Mário Negromonte. Segundo Wikipédia, Mário Sílvio Mendes Negromonte é um advogado e político brasileiro. Formado em direito, Negromonte é empresário da construção civil.
Ao centro da imagem o então ministro das Cidades Mário Negromonte. Segundo Wikipédia, Mário Sílvio Mendes Negromonte é um advogado e político brasileiro. Formado em direito, Negromonte é empresário da construção civil.

Reportagens da revista Veja e do jornal Estadão, publicadas na segunda-feira (04/01/2016), relatam depoimento no âmbito do caso Lava Jato realizado pelo delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, sobre o atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM Bahia) e ex-ministro do governo Rousseff, Mário Sílvio Mendes Negromonte. Na avaliação do delator, Mário Negromonte perdeu o cargo de ministro das Cidades porque “roubava só para si”. Ele também disse ter ouvido de Alberto Youssef que o ex-ministro e então deputado federal pelo PP era o “mais achacador” dos políticos envolvidos no esquema de corrupção.

Revista Veja

O delator da Lava Jato Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, afirmou em depoimento que o ex-deputado Mario Negromonte (PP) perdeu o cargo de ministro das Cidades no primeiro governo da presidente Dilma Rousseff porque estaria “roubando apenas para ele próprio”. Ceará foi descrito pela força-tarefa do petrolão como um dos responsáveis por distribuir propina a políticos a mando do doleiro Alberto Youssef. Ele afirmou à força-tarefa da Lava Jato que Youssef classificava Negromonte como o “mais achacador” dos políticos envolvidos no esquema. Ainda segundo ele, o ex-ministro cobrava propina insistentemente e teria perdido o cargo no primeiro escalão no governo petista porque não repassava a propina que, no esquema criminoso, deveria ser enviada a políticos do Partido Progressista.

Segundo relato do delator, Negromonte teria recebido 5 milhões de reais em propina durante a campanha eleitoral de 2010. Repasses de dinheiro, conforme Ceará relatou ter ouvido de Youssef, eram feitos pelo próprio irmão do ex-ministro, Adarico Negromonte, inocentado pelo juiz Sergio Moro na Lava Jato, e por Rafael Ângulo Lopes, delator e carregador de propina do doleiro. Entre os destinatários que receberam propina das mãos de Ceará estão os ex-deputados federais João Pizzolatti (PP-SC), Pedro Correa (ex-PP-PE) e Luiz Argôlo (ex-PP-BA), todos investigados ou já condenados no escândalo do petrolão. Também recebeu propina, conforme Ceará, o filho do deputado federal Nelson Meurer (PP-PR).

“Alberto Youssef comentava com o declarante que Mário Negromonte, entre os políticos, era ‘o mais achacador’. Alberto Youssef inclusive disse que Mário Negromonte perdeu o cargo de Ministro das Cidades, em 2012, porque não estava ‘fazendo caixa’ para o Partido Progressista, uma vez que estaria ‘roubando apenas para ele próprio'”, diz trecho da delação premiada de Ceará. Na versão apresentada pelo delator, Youssef e o ex-ministro tinham um telefone específico para se comunicarem.

O fluxo de dinheiro sujo no PP era tamanho que, sempre conforme Ceará, Youssef chegou a apelidar o esquema de “mensalão do PP”. A participação do doleiro Alberto Youssef na distribuição de propina a políticos ganhou força por volta de 2009. Por meio do carregador de malas, eram transportadas quantias de 150.000 reais a 300.000 reais. Em troca, Ceará recebia uma remuneração que variava de 1,5% a 3,0% do dinheiro transportado em viagens nacionais. No caso de transações internacionais, era cobrada comissão de 4% sobre a cifra transportada.

Em depoimento ao juiz Sergio Moro, o próprio Youssef havia confirmado que políticos do PP receberam repasses mensais de até 750.000 reais em propina, a partir de dinheiro desviado na Petrobras, durante a campanha eleitoral de 2010. Youssef citou quatro beneficiários preferenciais da propina do PP – o atual deputado federal Nelson Meurer, o ex-ministro das Cidades Mario Negromonte e os ex-deputados Pedro Corrêa e João Pizzolatti.

O Estadão e a versão de Mário Negromonte

Ao Estado, Negromonte disse que as acusações contra ele feitas por Youssef e Ceará são frutos de uma ‘combinação’ entre chefe e subordinado para prejudicá-lo. “Isso é uma combinação dele com o chefe dele. O Ministério Público já devia ter identificado isso”, disse. “Trata-se de um criminoso querendo se livrar dos crimes acusando sem prova material”, disse. Segundo Negromonte, Youssef estaria agindo dessa forma porque teve seus interesses contrariados. “Ele mesmo disse que quando eu era ministro não atendi ele”, disse.

O advogado de Negromonte na Lava Jato, Carlos Fauaze, disse não ver consistência na delação. De acordo com a defesa, o ex-ministro nunca teve contato com Ceará e apenas sabe do trabalho dele com Youssef em razão de seu irmão ter trabalhado com o doleiro. Sobre a saída de Negromonte do Ministério das Cidades, o advogado afirmou que houve uma divisão interna no PP na ocasião e uma corrente do partido se sobrepôs a outra, o que teria gerado uma troca “normal” no ministério.

Em depoimento à Polícia Federal no âmbito da Lava Jato, o ex-ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, falou sobre a troca no comando do Ministério das Cidades. De acordo com ele, a própria presidente Dilma Rousseff e o governo “em geral” tinham uma avaliação negativa a respeito de Negromonte. Carvalho afirmou que surgiram boatos envolvendo o nome de Negromonte em casos de corrupção, sem detalhar aos investigadores quais seriam os escândalos supostamente ligados ao político do PP. Além da questão da corrupção, segundo Carvalho em depoimento prestado no dia 10 de dezembro, havia uma insatisfação com o desempenho técnico de Negromonte.

O ex-ministro já foi citado também na delação de Rafael Ângulo, outro entregador de dinheiro enviado pelo doleiro Alberto Youssef. Nos depoimentos, o emissário do doleiro disse que um dos endereços funcionais de Brasília onde realizava entregas de dinheiro era o de Negromonte, que recebia entre R$ 100 e R$ 150 mil entre uma e duas vezes por mês.

Investigações

Mário Negromonte é alvo de ao menos três inquéritos relacionados à Operação Lava Jato. O ex-ministro é investigado perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suspeita de ter operado um esquema que renderia vantagens econômicas de R$ 25 milhões a serem repartidos entre partidos políticos. Ele é suspeito de conduzir tratativas, enquanto ministro, para implementar no País um sistema de rastreamento de veículos que renderiam repasses irregulares para o PP e para o PT.

No Supremo Tribunal Federal, ele é um dos políticos sob suspeita no inquérito que investiga a formação de quadrilha no âmbito da Lava Jato e recentemente foi incluído em um inquérito já existente que apura a participação do ex-deputado João Pizzolatti (PP-SC) no esquema de corrupção na Petrobras. Neste último inquérito, também é investigado o deputado federal Mário Silvio Negromonte Jr. (PP-BA), filho do ex-ministro das Cidades.

Baixe

 Depoimento no caso Lava Jato realizado pelo delator Carlos Alexandre de Souza Rocha (Ceará)

Conselheiro Mário Sílvio Mendes Negromonte tem, mais uma vez, nome citado no esquema de corrupção do caso Lava Jato.
Conselheiro Mário Sílvio Mendes Negromonte tem, mais uma vez, nome citado no esquema de corrupção do caso Lava Jato.
O deputado Mario Negromonte Jr., filho do conselheiro Mário Sílvio Mendes Negromonte, responde a inquérito no caso Lava Jato.
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