

O executivo Eduardo Hermelino Leite, ex-vice-presidente da construtora Camargo Côrrea, disse à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras que a empreiteira pagou R$ 110 milhões em propina para os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa (R$ 47 milhões) e Renato Duque (R$ 63 milhões).
A informação confirma o que disse o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, à CPI. Leite disse aos parlamentares que a empresa tinha uma planilha com informações sobre o pagamento de propina. “Então havia uma contabilidade?”, perguntou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). “Sim”, respondeu Leite.
“Por que o Renato Duque recebia mais que o Paulo Roberto Costa?”, quis saber o deputado. “Porque os contratos da diretoria de Serviço eram de valores muito maiores”, respondeu o ex-executivo.
Leite detalhou como era feito o pagamento da propina e quem eram os destinatários finais. Segundo ele, a propina era paga por meio de intermediários (operadores): Alberto Youssef para Paulo Roberto Costa e Júlio Camargo para Renato Duque. Acrescentou ainda que Costa era ligado ao ex-deputado José Janene, do PP, e Duque era ligado ao PT – o que coincide com as acusações feitas pelo Ministério Público Federal e as investigações da Operação Lava Jato.
Propina para o PT
O executivo apontou o PT como beneficiário do pagamento de propina paga à diretoria de Serviços da Petrobras, na época ocupada por Renato Duque. Ele disse isso ao ser questionado pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB).
Leite apontou três ocasiões em que o PT foi apontado a ele como beneficiário final do pagamento. A primeira foi uma reunião na casa do lobista Júlio Camargo, segundo ele operador do PT, ligado a Duque. “Eu estava lá, assim como Pedro Barusco [ex-gerente de Tecnologia da Petrobras], que listou os débitos [em propina] da Camargo e disse que tinham que prestar contas disso ao PT”, disse Leite.
O executivo contou ainda que Renato Duque cobrou propinas atrasadas da Camargo Correa mesmo depois de ter deixado o cargo de diretor da Petrobras. “Ele me procurou depois de sair da diretoria para pedir que o pagamento atrasado fosse feito para uma empresa de consultoria que ele havia acabado de abrir”, disse. “Mas ele disse que o pagamento era para o PT?”, perguntou Efraim. “Isso sempre foi conversado”, respondeu o executivo.
Eduardo Leite também contou à CPI que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu a ele que os débitos da Camargo Correa com propinas atrasadas fossem quitados por meio de doações oficiais eleitorais ao PT. Leite disse ainda que a proposta foi feita a ele na segunda vez que teve uma reunião a sós com Vaccari, sempre em restaurantes de São Paulo. “Da primeira vez a conversa foi institucional e ele me perguntou como funcionava a doação eleitoral dentro da Camargo”, explicou.
No encontro seguinte, segundo ele, “a conversa foi outra”. “Ele me disse que estávamos em débito com o pagamento de propina à diretoria de Serviços [ocupada por Renato Duque] e me ofereceu para quitar a dívida por meio de doações oficiais ao PT”, disse.
Segundo Leite, a Camargo Corrêa atrasava constantemente os pagamentos de propina – em razão dos altos valores envolvidos. Mas, de acordo com ele, a Camargo não atendeu ao pedido de Vaccari e continuou a pagar a propina por meio de contratos com empresas de consultoria de fachada – e não por meio de doações oficiais.
Vaccari está preso em Curitiba (PR) e nega envolvimento.
*Com informações da Agência Câmara.