
“Tempestade perfeita” é um conceito utilizado pelo cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco Marcus Melo, com a finalidade de sintetizar o conjunto de eventos que conduz o início do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff a ser avaliado como um dos mais fracos da história republicana do país.
Em entrevista publicada em 23 de fevereiro de 2015 no jornal Folha de São Paulo, com o título ‘Tempestade perfeita ameaça o governo Dilma’, Marcus Melo elenca o conjunto de eventos: “políticas de austeridade que devem gerar desemprego, os grandes escândalos envolvendo o PT e, daqui para frente, manifestações de rua.”, e segue, “em cima disso, agora o governo perdeu o controle político das duas casas no Congresso, na Câmara e no Senado. O partido de sustentação do governo, o PMDB, agora é quase um adversário.”.
O cientista político, ao analisar o quadro de crise econômica, avalia que “esta é uma recessão que veio para ficar, em um cenário de muita insatisfação. Nesse contexto, Dilma pode abdicar de seu poder presidencial. Pendura as chuteiras e faz uma política econômica de ajustes aqui e ali, se mantendo em uma espécie de pântano.”. Marcus Melo observa que “pela escala dos problemas, principalmente fiscal, é possível esperar uma reversão somente a partir de 2017.”.
Crise e visita a Feira de Santana
Observando o cenário de crise econômica e política, responsável pela clivagem do governo federal, Dilma Rousseff retoma o ciclo de visitas aos municípios, e inauguração de obras, com a finalidade de estabelecer contato direto com as massas, e, principalmente, objetivando definir uma pauta de notícias, para imprensa, que esteja fora do contexto da corrupção identificada da Petrobras, a partir da operação Lava Jato.
Neste sentido, ao visitar Feira de Santana, na quarta-feira (25/02/2015), para inaugurar habitações do Programa Minha Casa Minha Vida, a presidenta Dilma Rousseff literalmente desce no chorume da corrupção de valores e princípios que atingem o governo do PT, nas esferas federal, estadual e municipal.
O helicóptero, responsável por transportar a presidenta, pousou e decolou ao fundo do residencial, em um ponto intermediário entre os 1200 metros que separa o aterro da Sustentare e o empreendimento habitacional. O aterro foi interditado pela justiça estadual após ação interposta pelo Ministério Público do Estado da Bahia. O MPBA identificou, após seguidas denúncias e matérias do Jornal Grande Bahia, os crimes ambientais praticados pela empresa responsável pela gestão do aterro.
A matéria ‘Feira de Santana: no limite da irresponsabilidade, presidenta Dilma Rousseff e governador Rui Costa inauguram residencial em área contaminada’, publicada pelo Jornal Grande Bahia, na quarta-feira (25/02/2015), apresenta síntese sobre a dramática situação que o problema socioambiental adquire.
Trágico recomeço
Ao decolar no helicóptero e deixar Feira de Santana, retornando para Brasília, Dilma Rousseff apenas constatou como a corrupção se tornou práxis de governo. Ela percebeu como bons projetos, a exemplo do Minha Casa Minha Vida, são comprometidos pela sórdida conjunção de inconfessáveis e inexplicáveis interesses. Rousseff teve uma breve visão de como o governo fincou os pés no lamaçal, no chorume, da corrupção. Certamente, a presidenta deve ter se perguntado: Por quê a Caixa Econômica financiou um projeto habitacional a apenas 1200 metros de um aterro sanitário com visíveis problemas ambientais?
Ao retornar a Brasília, Rousseff leva um pouco da lama, e do chorume em que se tornou o governo petista.
*Carlos Augusto, jornalista e cientista social, diretor do Jornal Grande Bahia (JGB).



Leia +
Em Feira de Santana, presidenta Dilma Rousseff diz que governo não tem como baixar o preço do diesel