
Com a Independência conquistada em 1947 e a implementação de mudanças sociais estimuladas pelo carisma e liderança de Mahatma Gandhi, a Índia começou a se transformar. Porém, algumas histórias ilustram muito bem a situação anterior a uma Índia independente em transformação.
Impressiona a triste história das viúvas meninas da Índia. Da criança Chuyia, por exemplo. Aos nove anos de idade, após a primeira menstruação, por acordo entre as famílias, Chuyia é obrigada a casar com um homem de 60 anos de idade.
No dia das suas bodas, sem consciência disso, Chuyia se alegra com a festa — que não sabia ser sua — e avança na mesa de doces e quer bailar com as amiguinhas. É impedida e recriminada pelos adultos, pois na condição de nubente teria que jejuar e estar contrita para as núpcias.
Nesta mesma noite e nas noites seguintes a criança Chuyia é violentada pelo seu marido. Até que este morre, e Chuyia se torna viúva aos nove anos de idade.
Segundo a tradição indiana estas mulheres deveriam ficar isoladas da sociedade até ao final das suas vidas e não podiam voltar a casar. São encarceradas vivas em casas de acolhimentos construídas com o único propósito de receber viúvas, que são remetidas ao esquecimento e vivem da caridade alheia para se alimentarem. Viúvas mais jovens se prostituem para pagar as despesas da casa e ajudarem as mais idosas.
Entre as inúmeras restrições impostas às mortas-vivas que se tornavam as viúvas indianas, havia a espantosa proibição de voltarem a comer qualquer alimento doce…
Depois de perderem o marido elas perdiam a vida e o único destino é passar o tempo junto às companheiras de infortúnio.
Após décadas de involuntária clausura a já anciã Chuyia conhece a menina Kalyani, viúva virgem de oito anos de idade. Vê a sua história repetida, com a única diferença de Kalyani ter sido poupada da violação devido a não ter tido a sua primeira menstruação.
Uma forte amizade e afeto surge entre as duas, que passam a se tratar como avó e netinha.
Até quando a anciã Chuyia adoece gravemente e só tem a netinha Kalyani a quem recorrer. Já moribunda e agonizante expressa um último desejo à netinha querida: voltar a provar de uma comida doce antes do seu eminente falecimento.
Juntando as poucas moedas que possuía, a criança Kalyani vai ao mercado buscar satisfazer a vontade da querida vovó. Mas em todos os lugares que adentrava para comprar uma bala, um bombom ou o que quer que fosse era enxotada, pois a sua indumentária branca de viuvez a denunciava.
— Saia daqui… Onde já se viu… uma viúva querendo comprar doces!
Não satisfeita com as negativas e firmando o desejo de atender o último pedido da vovó moribunda, a menina Kalyani rouba um pequeno chocolate e correndo se dirige ao leito da sua vovozinha.
— Vovó, olhe o que eu trouxe para você!
Agonizando, ainda há tempo para a moribunda Chuyia degustar do doce sabor do pequeno bombom de chocolate.
Expira feliz nos braços da querida netinha, que chora a perda da saudosa vovó…