
Um atentado à democracia e à própria instituição é o mínimo que se pode dizer da tomada da Assembleia Legislativa da Bahia pela Polícia Militar do estado, independentemente do desfecho da ação criminosa. O legítimo direito de greve não se coaduna com o desrespeito ao poder constituído. Tampouco o atropelo da lei, o vandalismo, a disseminação do terror, o uso de mulheres e crianças como escudo e a quebra da hierarquia honram as fardas da PM. Não pode ser invertendo seu papel diante da sociedade que efetivos pagos pelo cidadão para preservar a ordem pública passarão a ser mais bem remunerados.
O tamanho do estrago tem várias medidas. Uma delas, a repercussão internacional do episódio, com embaixadas recomendando a turistas de seus países que evitem a Bahia até a normalização do quadro. A providência é irrefutável, uma vez que o próprio carnaval local, dos maiores e mais famosos do Brasil, foi posto em xeque. Outra, bem mais grave, a multiplicação do número de assaltos e assassinatos na capital e no interior. Uma terceira, a contaminação de forças de outras unidades da Federação. É estarrecedor que os ecos do movimento cheguem aos demais estados com potencial para animar as tropas a seguir o mau exemplo, em vez de a condená-lo com firmeza.
No Distrito Federal, policiais militares e bombeiros farão assembleia na próxima quarta-feira para discutir se paralisam as atividades. Pedem reposição salarial de 52%. Para se ter ideia do disparate, uma das categorias profissionais mais fortes do país, a dos bancários, obteve 9% de reajuste em outubro (ganho real de 1,5%, descontada a inflação), após 21 dias de greve. Ressalve-se, a PMDF é a mais bem paga do Brasil, com salários de cerca de R$ 4,5 mil. Brasília também sediará, na sexta-feira e no sábado, reunião da Confederação Brasileira de Policiais Civis com proposta de greve geral, objetivo também de policiais militares e civis do Rio de Janeiro, cuja assembleia está marcada para depois de amanhã, na capital fluminense. Que esses movimentos escolham o caminho da negociação, não o do confronto pela força bruta.
Afinal, espera-se que o país saiba tirar lições positivas do caos formado na Bahia. O deslocamento de policiais federais, da Força Nacional de Segurança e das Forças Armadas para o estado é medida paliativa. Dela, há que se avaliar a eficácia insatisfatória. Para além disso, é preciso assegurar a lei e a democracia, impedindo que governos se deixem acuar ou se tornar reféns de seus próprios quadros. Nesse sentido, é imprescindível proceder a assepsia para expurgar elementos de índole violenta ou politiqueira, capazes de tudo em benefício próprio, incluindo usar armas que lhes são confiadas para proteger a população. Por fim, a profissionalização, com planos de cargos e salários transparentes e hierarquia rígida, dará cabo da missão.
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Com relação ao motim da PM na Bahia, em editorial, jornal Correio Braziliense afirma: Afrontas à democracia
Em editorial, jornal O Globo afirma: Greve na Bahia agride o estado de direito