Combate à fome no Brasil pode ser modelo para Graziano na FAO

Jornal Grande Bahia, compromisso em informar.
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Especialistas afirmam que o Brasil tem lições a ensinar no combate à fome e dizem que essa experiência ajudou o brasileiro José Graziano da Silva a ser eleito diretor-geral da FAO.

Em pleno século 21, apesar de tantos avanços tecnológicos e da diminuição das fronteiras transnacionais, o combate à fome deve ficar ainda mais difícil. É essa a previsão das organizações que se ocupam com o tema há décadas; é esse o cenário que o novo diretor da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o brasileiro José Graziano da Silva, vai enfrentar.

Mas o Brasil tem o que ensinar ao mundo, afirma Luca Chinotti, da Oxfam International. “Graziano teve um papel muito importante na implementação do programa Fome Zero, que teve muito sucesso no Brasil e contribuiu para uma elevada redução no número de pessoas que sofrem com a fome. Esperamos que ele traga esses casos de sucesso para o nível global”, disse Chinotti em entrevista à Deutsche Welle.

De Heidelberg, na Alemanha, o brasileiro Flávio Valente, secretário-geral da FoodFirst Information and Action Network (Fian), também associa a escolha de Graziano aos feitos que o Brasil alcançou na última década. “Foi uma decisão de responsabilidade do governo brasileiro indicar o nome dele, e acho que a escolha [deste domingo] aconteceu em decorrência da experiência bastante positiva com toda a política de segurança alimentar e nutricional.”

Lições de casa

Brasileiros celebram a eleição de José Graziano da Silva
A expectativa agora é que Graziano, que já era subdiretor-geral da FAO e representante regional para a América Latina e o Caribe, reproduza no âmbito internacional as táticas que deram notoriedade ao Brasil: segundo o governo, 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza absoluta e 36 milhões entraram na classe média nos últimos anos.

A estratégia do Fome Zero mostrou resultados por aproveitar melhor os produtos regionais, investir em hortas escolares, captar água da chuva nas regiões áridas, apoiar a agricultura familiar – a grande produtora de alimentos. “Conceitos simples, porém não tão simplesmente implantados”, citados pelo próprio Graziano numa entrevista à Deutsche Welle antes de ser eleito.

“O país tem o que ensinar em relação à segurança alimentar e nutricional. Mas não é o Brasil como governo, mas como sociedade. A parceria com a sociedade civil foi fundamental para produzir os números que conhecemos [de redução da pobreza]”, ressalta Valente.

A coordenação das ações, no entanto, é parte do segredo do sucesso. A criação da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional, em 2007, e a regulamentação da chamada Lei de Segurança Alimentar, no ano passado, são exemplos de iniciativas públicas coordenadas, ressalta o chefe da Fian.

“Países como Brasil e também o Vietnã mostraram que, nos últimos anos, as políticas corretas e a liderança certa de políticos possibilitam a redução rápida da fome e da desnutrição”, comenta Chinotti, da Oxfam Internacional. Valente concorda, e aponta outro dilema: “Mas isso não elimina todas as esquizofrenias. As contradições permanecem, os interesses dos grandes proprietários rurais permanecem. Mas com essas iniciativas se consegue coordenar melhor as ações.”

Fome como business

Apesar de fornecer bons casos, o Brasil também vive um processo contraditório, cheio de problemas – e tenta conciliar os interesses dos grandes produtores com políticas voltadas para melhorar a vida da população. “O agronegócio recebe muito mais subsídio do governo brasileiro do que a pequena agricultura, apesar do pequeno agricultor produzir cerca de 70% dos alimentos básicos da população brasileira”, critica Valente, indicando um dos problemas.

A Oxfam International chama a atenção para o debate em escala mundial: por falta de incentivos e pela ação de grandes empresas da agroindústria, a expulsão de pequenos produtores vítimas de negócios obscuros fez com que, desde 2001, 80 milhões de hectares deixassem de produzir alimentos – área 20 vezes maior do que a Holanda. “Esperamos que Graziano mostre a liderança necessária para tomar as decisões certas que a FAO realmente precisa para se fortalecer no combate à fome”, diz Chinotti.

O cenário para as próximas décadas não é animador. Segundo dados da própria FAO, em 1970 havia 950 milhões de pessoas que passavam fome no mundo, atualmente esse número chega a 1 bilhão. “Estamos numa encruzilhada, realmente. A humanidade tem que tomar decisões importantes sobre o que quer para si mesmo. É uma escolha que temos que fazer: se quisermos continuar depredando o mundo de uma maneira impensada e muito imediatista, acho que a gente tende a desaparecer”, diz Valente.

Ao mesmo tempo, o brasileiro diz acreditar que medidas urgentes na área agrícola podem contribuir para a instituição vencer definitivamente essa luta. “Mas são medidas urgentes. Não existe só o modelo agroindustrial, que é usado pela indústria para alimentar animais e carros, e não pessoas. É preciso uma mudança de política internacional, de se inverter a prioridade de investimentos. Não é um retorno ao passado, mas o uso de uma ferramenta que estudos mostram ser o mais efetivo na luta contra a fome: a produção familiar, de pequena escala.”

*Com informação : Deutsche Welle

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