Relações da UE com AL não são as melhores no momento, dizem analistas

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Espanha sedia diálogos entre a UE e a América Latina. Analistas duvidam, contudo, que o encontro seja suficiente para modificar de forma significativa as relações entre as duas regiões.

A presidência espanhola da UE está sediando a cúpula bienal entre o bloco europeu, América Latina e países caribenhos, voltada para a consolidação dos laços estratégicos entre essas regiões. “Temos grandes esperanças nesse encontro”, afirmou Diego Lopez Garrido, secretário de Estado espanhol para Assuntos Europeus, durante a cerimônia de abertura da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, inaugurada em Sevilha, na última quinta-feira (13/05/2010).

Há necessidade de melhorar as relações entre as duas regiões, fala Anna Ayuso, pesquisadora do Centro de Estudos Internacionais e Documentação de Barcelona. “As relações não são as melhores no momento”, afirmou a analista à Deutsche Welle.

Voltada para o próprio umbigo

Segundo Ayuso, a Europa se manteve muito ocupada com seus próprios problemas em decorrência da crise econômica. Mas mesmo em outros tempos, salienta a especialista, a América Latina nunca foi prioridade para a UE, ao contrário do que pregam as declarações oficiais. “Agora menos ainda”, observa.

Desde a primeira cúpula entre as duas regiões, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1999, a UE considera suas relações com a América Latina “uma parceria estratégica”. Hoje, o bloco europeu é o segundo maior parceiro comercial e maior investidor na América Latina.

No entanto, diz Celestino del Arenal, professor de Relações Internacionais da Universidade Complutense de Madri, “tem havido poucos progressos no sentido de aprofundar os laços entre as duas regiões”. Em documento para o Instituto Real Elcano, de Madri, Arenal escreve que, “dez anos após seu anúncio, a ambiciosa meta de uma parceria estratégica, apresentada na cúpula do Rio, não foi ainda cumprida”.

Falta de voz comum

Um dos maiores obstáculos, dizem os analistas, é a falta de uma política comum latino-americana. “Nem os países latino-americanos como um todo nem grupos sub-regionais conseguiram se organizar através de uma voz uníssona. Os interesses nacionais de cada país na região sempre foram priorizados em detrimento de uma meta comum”, analisa Arenal.

Alguns líderes latino-americanos, diz Joaquin Roy, diretor do Centro da União Europeia na Universidade de Madri, têm dificuldades de compreender a posição da UE e a habilidade dos países do bloco em falarem através de uma só voz.

“Os países latino-americanos não entendem o conceito de soberania comum, algo que você pode ter, ao mesmo tempo, como Estado e como membro da União Europeia”, declarou Roy à Deutsche Welle.

Excesso de poder presidencial

Outro problema, diz ele, é o poder esmagador dos presidentes na região. Para Roy, as estruturas políticas na América Latina dos anos 1990, em sua maioria homogêneas, mudaram com a subida ao poder por populistas ou neopopulistas como Hugo Chávez na Venezuela.

“Tudo depende de quem está no poder”, acredita Roy, que trabalhou diversas vezes como consultor da UE em negociações com países do Caribe e da América Central. “Nenhum desses líderes quer dividir o poder com seus vizinhos”, conclui.

De acordo com Ayuso, essas estruturas políticas fazem com que a UE tenha dificuldades de encontrar um interlocutor à sua altura. “É mais fácil conversar com o México ou com o Brasil do que com Chávez na Venezuela”, diz ela.

Segundo Arenal, as estruturas políticas também têm implicações econômicas, ou seja, “elas geram insegurança nos investimentos, reduzem bastante o interesse da UE em alguns países e, indiretamente, em toda a região”, resume.

Brasil: papel importante no cenário internacional

A presidência espanhola da UE acentuou esta semana que o bloco europeu e a América Latina são “parceiros na luta frente aos desafios globais”. Diversos países latino-americanos estão, de fato, exercendo um papel muito mais importante no cenário internacional, como o Brasil, por exemplo. Mudanças climáticas e assuntos ligados à segurança são temas a serem debatidos pelos dois lados.

Segundo os analistas, o intercâmbio bilateral com determinadas sub-regiões ainda tem que crescer muito entre a UE e a América Latina, como por exemplo as relações comerciais do bloco com os países do Mercosul Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

A UE havia iniciado uma política de comércio livre com o Mercosul em 1995. Em 2004, todavia, essa política foi suspensa devido à ausência de um acordo, em função de disputas numa série de temas, como agricultura e propriedade intelectual, entre outros.

No início deste mês, a Comissão Europeia propôs uma retomada dessas negociações. Isso iria resultar em “claros benefícios econômicos” para os dois lados, diz o comunicado oficial do bloco europeu.

Resultados em pequena escala

A Espanha se autointitula uma “ponte natural” entre a UE e a América Latina, em função dos vínculos históricos entre o país e suas ex-colônias. Desde seu ingresso na UE, a Espanha vem fomentando ativamente as relações do bloco com a região. Anfitriã do encontro, Madri espera convencer os outros pa«ises-membros da UE da importância da América Latina hoje.

A cúpula envolve também uma série de encontros regionais, como entre os europeus e, por exemplo, representantes do México, Chile e do Mercosul, o que poderá ser útil para redigir a declaração final, a ser assinada por todos os líderes presentes e apresentada na próxima terça-feira (18/05).

Concentrar-se nos vínculos em pequena escala pode trazer melhores resultados, aposta Ayuso. Além disso, a declaração final, que deverá ser menor que aquela publicada na última cúpula, realizada em Lima, no ano de 2008, deverá incluir um número maior de propostas concretas.

“Esse é um bom começo, porque as outras declarações eram sempre muito longas”, lembra Ayuso. O diálogo sobre temas específicos, como migração e segurança, por exemplo, também contribui para o sucesso da cúpula.

“Focar em assuntos específicos faz com que o diálogo seja mais eficaz, ao se criar objetivos concretos”, fala a especialista. Mesmo que, como salienta Roy, não se espere desta cúpula nenhuma mudança substancial de ordem maior. “Tenho que ser otimista. Vai haver progresso, mas será lento”, conclui.

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