Política externa brasileira desperta ciúmes, diz presidente Lula

Presidente Lula e Shimon Peres, presidente de Israel, durante visita oficial, realizada em 15 de março de 2010.
Presidente Lula e Shimon Peres, presidente de Israel, durante visita oficial, realizada em 15 de março de 2010.
Presidente Lula e Shimon Peres, presidente de Israel, durante visita oficial, realizada em 15 de março de 2010.
Presidente Lula e Shimon Peres, presidente de Israel, durante visita oficial, realizada em 15 de março de 2010.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que o Brasil deixou de lado o “complexo de vira-lata” no cenário internacional e que essa postura da diplomacia brasileira “gera ciúmes e inimigos”.

Em discurso durante a formatura de novos diplomatas, no Itamaraty, o presidente fez um balanço de sua política externa e rebateu críticas recebidas ao longo de seu mandato.

“Eu disse uma dia ao Celso (Amorim): você precisa tomar muito cuidado, porque o Brasil está começando a ficar importante. E quando um país fica importante, começa a gerar ciúmes e começa a arrumar inimigos”, disse o presidente.

“Aqueles que não foram capazes de fazer o que você está fazendo vão começar a ser contra. Até porque durante muito tempo nós fomos induzidos a um complexo de vira-lata. O importante era não ser ninguém”, acrescentou Lula.

O presidente descreveu, como exemplo, sua primeira participação na reunião do G8, o grupo dos países desenvolvidos. Segundo ele, todos os líderes presentes se levantaram da cadeira quando o então presidente George W. Bush entrou na sala.

“Eu falei para o Celso: eu vou ficar sentado. Ninguém levantou quando eu cheguei”, disse o presidente.

“Humildemente, o Bush nos cumprimentou e sentou conosco. Isso me marcou muito”, acrescentou.

‘Humildade’

Lula disse que sua política externa já foi alvo de “muitas críticas”, sobretudo em função de sua aproximação com países com menos peso no cenário internacional, como os da África, e das concessões feitas aos países vizinhos.

“Todos vocês acompanharam como alguns queriam que eu partisse para a garganta do Evo Morales (presidente da Bolívia) e esganasse ele, quando ele disse que o gás era dele, e eu não fiz porque achei que o gás era dele mesmo”, disse o presidente.

Segundo o presidente, a diplomacia brasileira deve continuar “generosa e humilde”, mas que precisa também “defender seus interesses com orgulho”.

As declarações de Lula coincidem com a publicação de um artigo pelo jornal britânico Financial Times sobre a política externa brasileira.

O texto afirma que o jeito “carinhoso” do Brasil é um obstáculo para que o país consiga um lugar entre as grandes potências no cenário internacional, inclusive ameaçando a conquista de uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Jeito ‘carinhoso’ do Brasil é obstáculo para estar entre os grandes, diz jornal

Um artigo publicado nesta terça-feira pelo jornal britânico Financial Times afirma que o jeito “carinhoso” do Brasil é um obstáculo para que o país consiga um lugar entre as grandes potências no cenário internacional.

O texto assinado pelo jornalista John Paul Rathbone afirma que, após a crise financeira global, o Brasil “tornou-se importante na comédia das nações, quase sem ninguém perceber”.

Há seis anos, o Brasil participava apenas pela primeira vez como convidado de uma reunião do G8, grupo que reúne as maiores economias industrializadas do planeta, e tinha mil diplomatas espalhados pelo mundo. Hoje, segundo o jornal, o Brasil tem 1,4 mil diplomatas e sua voz, ao lado da Turquia e China, é importante em questões internacionais, como as sanções nucleares ao Irã.

Política de ‘arco-íris’

No entanto, segundo o texto, “a política de arco-íris do Brasil pode estar atingindo o seu limite e poderia até colocar em risco a vaga permanente no Conselho de Segurança que o país cobiça”.

“Gafes recentes mudaram a imagem açucarada do Brasil e do seu presidente também”, afirma o Financial Times.

Entre os episódios citados pelo jornal estão a crítica feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à greve de fome ativista cubano Orlando Zapata e os comentários do presidente sobre protestos da oposição após as eleições no Irã – quando Lula disse que as manifestações eram “choro de perdedores”.

O jornal também destaca o fato de que o Brasil condenou a instalação de bases militares americanas na Colômbia, mas ignorou a compra de armas russas feita pela Venezuela ou o suposto apoio do governo de Caracas às milícias das Farc.

“Para os críticos, essa é uma política externa irritante – narcisista e ingênua. Mas como todos os países poderosos, o Brasil está perseguindo o que acredita que sejam seus interesses. Se ele está fazendo isso bem é outro assunto”, diz o texto.

Para o jornal, o Brasil tem diplomatas de competência reconhecida, sobretudo na área comercial, mas o país não tem institutos de pesquisa capazes de abastecê-los com informações sobre o mundo, como Moscou e Washington, o que levaria o país a cometer “erros” e não se acostumar “aos holofotes da opinião internacional”.

“Isso custou pouco ao Brasil até agora”, diz o Financial Times.

“Ainda assim, muitos sentem que se o Brasil vai se sentar na principal mesa, ele terá de tomar decisões difíceis”, afirma o jornal, citando a posição do país sobre propriedade intelectual na Rodada Doha.

Outro desafio do Brasil, segundo o artigo, acontecerá após as eleições, quando o país perderá o “charme de Lula”.

“A imagem do império carinhoso pode não durar mais”, conclui o texto.

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