Ex-governador Paulo Souto avalia política de saúde do Governo Wagner e situação das rodovias da Bahia

Carlos Augusto e Sérgio Jones entrevistam o ex-governador Paulo Souto.
Carlos Augusto e Sérgio Jones entrevistam o ex-governador Paulo Souto.

Na segunda parte da entrevista concedida ao Jornal Grande Bahia, ocorrida na terça-feira (25/08/2009), na sede estadual do Democratas em Salvador, o ex-governador e pré-candidato ao governo do Estado nas eleições de 2010 Paulo Ganem Souto aborda a política de saúde pública do governo Wagner, estado de manutenção das rodovias, obras do governo federal na Bahia, e política industrial do governo Wagner.

JGB – Qual a análise que o senhor faz do atual quadro do setor da saúde na Bahia?

Paulo Souto – Começo minha avaliação pelo programa preventivo, Saúde da Família, programa que conta com recursos federal, estadual e municipal. O seu gerenciamento era da responsabilidade do município. Ao assumirmos o governo a cobertura do programa só alcançava 21 % da população, ao concluir o nosso mandato os índices eram de 52%. Esta conquista não foi alcançada apenas por esforços nossos, houve participação e apoio dos governos municipal e federal. O Estado teve uma participação importante no processo de treinamento e capacitação dos agentes comunitários; na construção de inúmeros Postos de Saúde da Família; promovendo financiamento com o Banco Mundial o que possibilitou a construção de novos Postos de Saúde nos municípios mais carentes do Estado. Todo este esforço nos permitiu assegurar recursos de custeio por quatro anos

Passado dois anos resolvi fazer uma consulta ao Ministério da Saúde e confesso que levei um grande susto, o índice do percentual de atendimento era o mesmo deixado pelo nosso governo (52%). O que significa dizer que ao longo de todo este tempo não houve avanço no setor. No tocante a implantação de unidades de saúde de grande porte, o nosso governo foi responsável pela construção de uma das mais modernas maternidades do norte e nordeste do Brasil. A maternidade José Maria Magalhães Neto, em Salvador    ; hospitais nos municípios de Barreira, Ribeira do Pombal, e em Alagoinhas, além de ter deixado já iniciado as unidades hospitalares de Ireçê e de Juazeiro. O governo atual inaugurou o de Irecê, e o de Juazeiro este ano.  Pelo que tenho conhecimento eles estão construindo duas unidades novas, o Hospital da Criança em Feira de Santana e o do subúrbio em Salvador. O que considero mais grave é que o sistema de urgência e emergência no governo de Wagner entrou em completo colapso. Morrerem em Postos de Saúde da Prefeitura Municipal de Salvador, 240 pessoas por não conseguirem ser transferidas, em tempo hábil, para as unidades de saúde do Estado. Isso reflete bem o grau de desorganização existente.

 JGB – Como o senhor avalia as obras do governo federal na Bahia, em especial as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)?

Paulo Souto – Tenho que dividi-la em áreas distintas. A área de saneamento, o maior número de obras do PAC na Bahia, parte dela está conseguindo deslanchar e reconheço que são obras importantes. Durante o nosso governo fizemos um grande esforço nesse sentido com verbas estadual, no caso do atual governo este dispõe de recursos por contar com verbas federais. Quanto às obras que eu chamo de estruturantes principalmente as obras de logística do transporte, elas não começaram, podemos citar a título de exemplo: a travessia do Paraguassu, linha ferroviária entre os municípios de São Félix e Cachoeira. Importante observar que elas não se pode dizer que são do PAC, pois foram iniciadas em outubro de 2006. Até aí nada demais a não ser pelo fato de que  estão paralisadas até hoje.

A verdadeira catástrofe é a BR 324 Salvador/Feira/Salvador, seguramente uma das estradas mais movimentadas do país Por diversas vezes foi adiada a licitação para ser pedagiada, o que significa que as pessoas ao transitarem pelo local vão ter que pagar, mas, ainda assim, os trabalhos não foram iniciados; a duplicação da BR 116, principalmente no trecho que compreende Feira e o Paraguassu onde o tráfego é intenso, também os trabalhos não foram iniciados; a BR 101, a sua duplicação já foi realizada nos outros Estados do nordeste, na Bahia onde a sua extensão é bem maior os trabalhos sequer começaram; o ramal ferroviário entre o Pólo Petroquímico de Camaçari e o Porto de Aratu continua como antes; o Porto da Bahia de Todos os Santos não tem capacidade de atender prontamente os navios e este são obrigados a permanecerem por longo tempo ao largo, aguardando a sua vez para poderem atracar. E aí falam que nós não cuidamos da infraestrutura, quando sabemos que esta é de responsabilidade federal. Quando nós tivemos empreendimentos que precisava de infraestutura e o governo federal não fez, nós fizemos. Nós precisávamos de um Pólo automobilístico, um posto para a grande indústria de moagem de farinha de trigo, nós conseguimos atrair empresas através de incentivos. A ferrovia Leste / Oeste que é sem dúvida uma grande obra, infelizmente nem o projeto básico está concluído. Eles dizem que vão licitar este ano, espero que façam isso, mas, se o fizerem será sem o projeto básico.

A única obra concluída é a do sistema viário que melhorou em muito o acesso ao aeroporto, obra esta, que na verdade já estava vinculada a duplicação do aeroporto feita há muito tempo pela Infraero e que foi incluída no PAC. E a chamada via Portuária que está sendo iniciada agora com a construção de um ou dois viadutos na BR 324.

JGB – Qual a avaliação que o senhor faz da política Industrial nestes três anos de governo de Jaques Wagner?

Paulo Souto – Eu acho que tem uma frase que pode resumir tudo isso. Entre 2003 e 2006, quando se falava em desenvolvimento econômico e industrial, a expectativa era qual a próxima indústria que vem para a Bahia. Foi assim com a Avipal e a Nestlé em Feira. Você sempre tinha expectativa de novos empreendimentos porque o governo era ativo. Atualmente o que acontece na Bahia? Qual a pergunta que se faz? É qual a indústria que vai fechar?

A Bahia perde seguidamente os investimentos para Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Estados do Sul, enquanto ninguém por aqui, ninguém consegue vislumbrar qual a atitude do governo do ponto de vista com relação a política industrial a ser adotada  visando atrair  mais investimentos para a Bahia. Se isto é ruim agora, será muito mais grave no futuro. Porque quando você capta investimento hoje, o seu reflexo ocorrerá em dois ou três anos. No futuro nós vamos pagar um alto preço por falta de agressividade política do governo  para atrair novos investimentos para o Estado.

Paulo Souto: A verdadeira catástrofe é a BR 324 Salvador/Feira/Salvador, seguramente uma das estradas mais movimentadas do país.
Paulo Souto: A verdadeira catástrofe é a BR 324 Salvador/Feira/Salvador, seguramente uma das estradas mais movimentadas do país.
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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10723 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.

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