Lula: o rádio continua sendo um dos mais extraordinários instrumentos de comunicação

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, às rádios São Francisco AM (Anápolis) e Terra FM (Goiânia) Anápolis (GO), 13 de agosto de 2009.

Jornalista: Estamos aqui aguardando também as manifestações de Sandes Júnior, que vai nos acompanhar nesta entrevista.

Presidente: Sandes, primeiro, eu queria te cumprimentar, cumprimentar os ouvintes da rádio Terra FM e dizer que é uma alegria imensa estar de volta à Goiânia para fazer visita a obras, em parceria com o Governador do Estado. Queria também cumprimentar os ouvintes da rádio São Francisco, cumprimentar você, Orisvaldo, e poder falar um pouco com o povo de Anápolis.

Nós estamos vivendo no Brasil um momento, eu diria, muito importante. Nós afirmávamos, em dezembro do ano passado, que a crise tinha entrado por último no Brasil e que ela sairia primeiro do Brasil e, hoje, não só os indicadores econômicos aqui do Brasil, mas hoje todas as informações que nós recebemos do mundo inteiro, de toda a imprensa mundial, de todos os economistas que fazem análise sobre a conjuntura econômica global, são unânimes em afirmar que o Brasil é o país que está melhor preparado, que o Brasil vai sair da crise mais fortalecido. Eu, nesta semana, fiz reuniões com o Meirelles, fiz reuniões com o ministro Guido Mantega, e a situação do Brasil está muito confortável e com uma extraordinária perspectiva de crescimento neste segundo semestre e um bom crescimento em 2010. Significa que o Brasil não só já venceu a crise, como o Brasil vai sair muito fortalecido desta crise.

Jornalista: O senhor disse ontem, inclusive, Presidente, que mesmo com essa crise toda, o Brasil conseguiu vencer e até ampliar a luta contra a desigualdade social. Esse é um fator que o senhor sempre tem abordado nas suas entrevistas, no seu trabalho: a questão social. Que importância tem esse fator, essa redução da pobreza no Brasil para esse processo de desenvolvimento?

Presidente: Olhe, só tem sentido um homem como eu chegar à Presidência da República, se dedicar o mandato a ajudar o povo mais pobre do País a levantar a cabeça e a viver mais dignamente. No nosso governo, os empresários ganharam muito dinheiro, a classe média ficou mais fortalecida e o pobre deixou de ser miserável e começou a melhorar de vida. Isso teve um resultado extraordinário porque no auge da crise, nos meses de novembro e dezembro, quando a economia do mundo parou, estagnou, quem sustentou a economia brasileira foi o consumo, sobretudo o consumo das pessoas mais pobres, e a solidez da estabilidade econômica e a solidez das empresas brasileiras. E, muito mais ainda, a capacidade do Estado de fazer investimentos.

É importante lembrar que no auge da crise nós assumimos o compromisso de colocar mais 455 bilhões em obras do PAC, que vão até 2013. Isso é uma demonstração de que na hora em que o Estado assume a responsabilidade de ser, não o gestor, mas o indutor do desenvolvimento econômico, procurando aqueles setores que precisam de apoio, como a agricultura, por exemplo, que nós fizemos o maior Plano Safra da história deste país, com R$ 107 bilhões de investimento na safra 2009-2010, a gente começa a colher o resultado.

Então, eu penso que na medida em que o povo pobre vai deixando de ser mais pobre, vai ganhando um pouquinho mais, na hora em que o salário mínimo aumenta um pouquinho mais, essa gente não vai comprar dólar, essa gente não vai comprar nada importado. Essa gente vai comprar roupa, vai comprar comida, vai comprar um par de sapatos, uma meia, e isso ajuda a fazer com que a economia tenha uma dinâmica extraordinária. Eu sempre digo que a economia é como uma roda-gigante: ela não pode parar nunca. Ela tem que continuar girando para que o consumo fomente a indústria, a indústria produza mais, gere empregos, o emprego gera salários, os salários geram poder de compra, e aí tudo funciona perfeitamente bem. É isso o que está acontecendo no Brasil nesse momento.

Outra coisa importante, Orisvaldo e Sandes, é que nós, hoje, estamos com o desemprego menor do que o desemprego europeu e menor do que o desemprego americano. Nós, hoje, temos a menor taxa de juros da história deste país. A verdade é que se a gente perguntar para qualquer pessoa de 50, 60 anos, nós nunca acreditávamos que os juros pudessem chegar – juro real – a 4,5%. Nunca pensamos nisso. Eu me lembro que na Constituição de 1988 nós colocamos juros reais de 12%. Hoje nós estamos com um terço disso, numa demonstração de que o Brasil finalmente se encontrou, o povo mais humilde está tendo mais oportunidade, mais Educação, o salário mínimo tem aumentado, e tudo isso resulta na melhoria da qualidade de vida do povo.

Então, eu acho que é para isso que eu fui eleito, acho que era isso o que o povo esperava – quem sabe, esperava muito mais –, mas a gente vai fazendo aos poucos, porque a gente não pode resolver uma concentração de desastres de cem anos, em apenas oito anos. Mas eu acho que o jogo está dado e o Brasil vai se transformar em uma grande economia mundial, e eu acho que, dentro de dez ou 15 anos, o Brasil estará entre as quatro ou cinco maiores economias do mundo.

Jornalista: Presidente, vamos falar de obras. O senhor vai visitar, daqui a pouquinho, a parte da Ferrovia Norte-Sul que passa em Anápolis. Como é que está a situação hoje da obra? Essa obra termina até o final do seu governo? Como é que está a situação da Ferrovia Norte-Sul?

Presidente: Olha, eu acho que ela poderia estar um pouco mais adiantada se não fossem as cautelares feitas pelo Tribunal de Contas da União, alegando sobrepreço em algumas obras. Isso está agora em uma discussão da Valec com o Tribunal de Contas da União. Eu próprio vou fazer uma reunião com o Ministro dos Transportes na semana que vem. Nós já fizemos mais do que todos os governos fizeram na Ferrovia Norte-Sul, mas eu quero ultrapassar os 1.500 quilômetros, quero fazer a ligação dela com São Paulo. Na hora em que a gente fizer a ligação da Ferrovia Norte-Sul com São Paulo, e a gente fizer a Leste-Oeste, da Bahia, ligando com a Ferrovia Norte-Sul, o que nós estamos dizendo ao Brasil e ao mundo? É que nós vamos ter um sistema de transporte barato, seguro, e vai poder fluir, com muita facilidade, a nossa capacidade produtiva, ou seja, nós vamos poder exportar para [por] vários portos ao mesmo tempo, seja para São Paulo, seja para a Bahia, seja para o Maranhão. Nós vamos ter uma facilidade enorme de chegar a vários portos ao mesmo tempo, e isso é uma coisa extremamente importante. Você sabe, Sandes, o carinho que eu tenho pela Ferrovia Norte-Sul. Eu, agora, tenho mais 126 quilômetros para inaugurar. Hoje eu vou fazer uma visita ao Túnel, aí, que é uma obra de quase R$ 100 milhões, 80% já está praticamente pronta, e no mês que vem, em setembro, eu vou inaugurar esses outros 120 quilômetros. E vamos dando ordem de serviço porque nós queremos fazer o máximo que um presidente puder fazer nessa Ferrovia Norte-Sul, porque isso significa colocar o Centro-Oeste na ordem do dia, significa a gente fazer com que o mundo compreenda que o Centro-Oeste está mais próximo da Europa, está mais próximo da China, está mais próximo dos Estados Unidos, com uma capacidade produtiva imbatível e com uma capacidade de escoamento da produção também imbatível. Na hora em que a gente fizer isso, você pode ter certeza de que, em 15 anos, mudará a cara, para melhor, de todo o Centro-Oeste brasileiro.

Jornalista: Presidente, uma das grandes expectativas do povo brasileiro é em relação à construção das moradias. O povo quer casa própria. O governo federal tem um programa importante desenvolvido nessa área, o governo do estado, o governo aqui de Anápolis, a prefeitura municipal também. O que o povo pode esperar desse programa, o que povo pode esperar da construção dessas moradias?

 Presidente: Olhe, primeiro, o programa que nós lançamos, “Minha Casa, Minha Vida”, é um desafio para o governo, é um desafio para os empresários, porque não existia o hábito de você ter um programa de 1 milhão de casas. Eu me lembro que quando eu pensei em fazer esse programa, eu fui consultar primeiro os empresários brasileiros, e eles me disseram que a capacidade de produção de casas deles poderia ser de 200 mil casas ao ano. Eu falei: olhe, 200 mil casas não é um plano, isso é obrigação nossa. Eu quero um plano, um plano, para muitas casas. Quando nós fizemos a proposta de 1 milhão de casas, muita gente caiu de costas: “Esse Lula deve estar ficando louco de querer fazer 1 milhão de casas”. E eu coloquei 1 milhão de casas como um desafio, um desafio para o governo, um desafio para os empresários, um desafio para a Caixa Econômica Federal. Fizemos toda uma engenharia financeira para baratear o custo dessas casas, e hoje eu posso te garantir uma coisa: eu não quero ser exageradamente otimista, mas nós teremos esse 1 milhão de casas contratados até 2010. E, desse 1 milhão de casas contratados, eu acho que no ano que vem nós já teremos por volta de 500, 600 mil casas prontas – o que é uma revolução neste país – além das casas contratadas diretamente pela Caixa Econômica, pelo Fundo de Garantia, fora do “Minha Casa, Minha Vida”.

Aqui em Goiás, eu acho que são 27 mil casas do programa “Minha Casa, Minha Vida”… 50 mil casas do programa “Minha Casa, Minha Vida”. Então, o Alcides tem a responsabilidade de trabalhar como nunca para que a gente possa inaugurar essas 50 mil casas até o final do governo dele. O que é importante? É que a priorização dessas casas é para a população de zero a três salários mínimos, ou seja, as pessoas que têm mais dificuldade de comprar casa. Outra coisa que é muito importante: o cidadão, agora, vai comprar a casa, e se ele pagar aluguel, ele não vai pagar o aluguel e a prestação da casa. Ele não vai pagar a casa até receber a chave. Ele só vai pagar a prestação da casa quando ele deixar de pagar aluguel e entrar na casa nova, porque o que impedia as pessoas de comprarem casa é que as pessoas não poderiam pagar aluguel e, ao mesmo tempo, pagar a prestação da casa.

Então, se esse programa der certo, como eu acho que ele vai ser um sucesso extraordinário, eu acho que daqui para a frente o Brasil não vai nunca mais pensar pequeno em termos de habitação. O Brasil vai sempre pensar maior, porque nós estamos mudando o paradigma, ou seja, o Brasil estava acostumado a construir 200 mil casas, 300 mil casas, 150 mil casas. Quando a gente eleva o patamar para 1 milhão, significa que todo mundo vai ter que se preparar mais: a fábrica de material de construção, a fábrica de ferragens, a fábrica de encanamento. Todo mundo vai se preparar para produzir em grande escala, e aí o Brasil estará preparado para dar um salto de qualidade e resolver definitivamente, nos próximos anos, o déficit habitacional brasileiro.

 Jornalista: Por falar em casas, o senhor inaugura hoje 6 mil em Goiânia e lança, em um ato público, na Praça Cívica, as 50 mil casas que o governo do estado, o governador Alcides Rodrigues já começou a construir e que serão inauguradas até o final do ano que vem. E por falar em obras, continuando obras do estado de Goiás, o senhor também vai fazer hoje, assinar, a autorização, a ordem de serviço – já que a BR-060 passa dentro de Goiânia –, a autorização para a ampliação da BR-060 e a construção de quatro viadutos para desafogar o trânsito de Goiânia, que é uma cidade de 1 milhão e 500 mil habitantes e que tem 900 mil veículos.

Presidente: Olha, vamos ver uma coisa, Sandes. O PAC tem, para o estado de Goiás, R$ 34,8 bilhões, dos quais 26 bilhões e 800 milhões são investimentos até 2010 e 8 bilhões são investimentos pós-2010. Quando chegar fevereiro do próximo ano, eu vou apresentar um próximo PAC para o Brasil, 2011-2015. Vou chamar os governadores, os prefeitos das principais cidades, construir as necessidades dos estados e colocar em um projeto. Por que eu tenho que fazer agora, em 2010, para deixar para 2011? Porque eu preciso colocar isso no Plano Plurianual, eu preciso colocar dinheiro no Orçamento para que quem vier depois de mim tenha facilidade, eu preciso deixar projeto pronto. É assim que as obras andam, quando você tem projeto executivo pronto, quando você tem licenciamento prévio, que você pode fazer a licitação, contratar e a obra vai embora. Antes disso… A BR-060, por exemplo, de que você falou. Nós estamos com o projeto executivo pronto, nós vamos fazer, acho que dentro de dez dias, a licitação dessa obra. E quando a gente faz licitação ainda, às vezes, Sandes, nós temos um problema, porque pode ser que uma empresa que perca a licitação entre na Justiça. E aí leva um ano, leva um ano e meio, leva dois anos, leva seis meses. As pessoas não se dão conta do prejuízo que o Brasil tem cada vez que as pessoas param uma obra. Às vezes se para uma obra, e depois de dois anos você vai fazer a obra do mesmo jeito que era para ser feita dois anos atrás, e as pessoas não se dão conta do prejuízo que dão à nação.

Nós estamos bastante preparados para fazer com que as obras, todas, previstas pelo PAC aqui no estado de Goiás andem mais rapidamente. Você veja o nosso aeroporto aqui. O aeroporto de Goiânia é um aeroporto que… já era para ter inaugurado esse aeroporto. Entretanto, houve um problema com o Tribunal de Contas da União, a obra está paralisada. Nós não vamos ter outro jeito, senão fazer uma nova licitação. O ministro Jobim está trabalhando nisso, nós precisamos fazer a coisa de forma que as empreiteiras que foram contratadas não entrem com ações contra o governo, porque aí você teria que gastar duas vezes, mas nós precisamos terminar o aeroporto de Goiânia porque Goiânia é uma cidade importante para o Brasil, Goiânia é uma cidade que recebe muitos turistas, e o aeroporto tem que ser adequado à grandeza da cidade, à expectativa de futuro que a cidade tem.

Mas eu estou muito otimista com as obras do PAC aqui. O que nós vamos fazer hoje é uma revolução. Nunca, na história do Brasil, alguém ousou anunciar… Primeiro, inaugurar quase 6 mil casas e depois, anunciar mais 50 mil casas, o que não é pouca coisa – haja tijolo, haja cimento, haja telha, haja madeira para que a gente possa colocar essas casas em pé – e isso deixar o povo mais feliz porque vai gerar emprego, vai gerar salário, vai gerar poder de consumo da sociedade e tudo vai melhorar.

Nós temos uma parceria extraordinária com o Alcides, e essa é uma coisa de que eu me orgulho muito, é de ter estabelecido uma relação, entre os entes federados, extraordinária. Todo mundo sabe, o Alcides não apoiou… Eu não apoiei o Alcides, nós fomos adversários. Mas na hora em que ele ganhou as eleições e eu ganhei as eleições, não tem mais a questão partidária, não tem mais a questão de disputa eleitoral. Nós fomos eleitos para governar. E eu não posso vir aqui em Goiás fazer qualquer coisa sem conversar com o Alcides, porque essa parceria é extraordinária para que as obras andem mais rapidamente, para que a gente possa concluir, e também com os prefeitos…

Eu acho que nós encontramos um jeito de governar o Brasil, em que as coisas fluem com mais rapidez, porque não existe disputa entre nós. Jamais será negado um centavo ao Alcides porque ele pertence a um partido que não seja o meu, jamais será negado um centavo a um prefeito deste país porque não pertence ao meu partido. Na verdade, a gente governa é [com] o seguinte: o prefeito é apenas o representante de um povo, e se o povo tiver necessidade, o governo federal tem que tratá-lo com respeito e colocar o dinheiro lá.

Tem sido assim e essa é uma coisa que me orgulha muito. Quando eu deixar a Presidência, eu saio com a convicção de que nunca um presidente da República tratou governadores e prefeitos com o respeito com que eu trato, nesses oito anos de mandato.

Jornalista: Presidente, a prefeitura de Anápolis também, este ano, tem entregue já muitas obras físicas, como asfalto, como passagens importantes, que há muito tempo Anápolis reivindicava. Obras físicas que o governo federal também faz aqui, em parceria. Inclusive, este ano já foram entregues casas populares com os recursos do PAC.

Mas o senhor também tem uma preocupação com a formação do trabalhador e a gente tem acompanhado isso. Anápolis, por exemplo, e o prefeito tem evidenciado isso, tem a construção do Ifet. O Ifet está sendo construído aqui, com previsão de inauguração já para janeiro do ano que vem. Qual é a colaboração que o Ifet pode dar para a preparação do trabalhador brasileiro, principalmente aqui nesta região, que é uma região industrial, polo farmacêutico? Enfim, é uma cidade que precisa dessa formação.

Presidente: Primeiro nós temos que ter em conta que Anápolis não é uma cidade de interior. Anápolis é uma cidade muito grande, uma cidade que tem um potencial extraordinário, e você criar um Instituto Federal de Tecnologia aqui no estado é uma necessidade de preparar a juventude para o mercado de trabalho. Nós acreditamos… vamos inaugurar, até 2010, 214 novas escolas técnicas no Brasil. Esse dado é importante… Não 214. Se você imaginar que, de 1909 a 2003, todos os governantes que passaram neste país fizeram apenas 140 e que nós, em oito anos, vamos fazer 214… Nós mudamos o patamar. Nós vamos passar a ter 364 escolas técnicas no Brasil e isso vai permitir que quem vier depois de mim, obrigatoriamente vai ter que fazer mais. Não tem jeito de você fazer o Brasil ser mais competitivo neste mundo maluco, globalizado, se o Brasil não tiver cada vez mais mão-de-obra qualificada, cada vez mais gente especializada. É por isso que as escolas técnicas são extremamente importantes, é por isso que os institutos tecnológicos são muito importantes, que é para a gente qualificar. O Brasil entrará no rol dos países altamente desenvolvidos quando a gente estiver exportando tecnologia, quando a gente estiver exportando conhecimento, e não apenas soja, minério de ferro ou avião

Então, eu acredito nisso e eu tenho noção de uma coisa: eu tenho noção do que um curso técnico mudou na minha vida. Eu posso me pegar como parâmetro. Eu tenho a convicção do que foi, para mim, aprender uma profissão. A minha vida mudou e eu acho que para qualquer jovem – sobretudo para um jovem de classe média baixa e os mais pobres – a oportunidade de ter um curso profissional é quase uma redenção. Na verdade, é um grito de liberdade para a vida inteira, porque o cidadão passa a ter uma profissão. Diferentemente daquele que, quando você pergunta assim “o que você sabe fazer?” “Ah, um pouco de tudo”. Não sabe nada. Ou aquele que fala: “Ah, não sei fazer nada”. Esse também não tem emprego. Agora, quando ele é perguntado “o que você sabe fazer?” e ele fala “eu sou desenhista”, “eu sou especialista em alguma coisa”, “eu sou um ferramenteiro”, “eu sou um técnico agrônomo”, aí ele vira cidadão, porque ele próprio sabe o que ele é, e ele próprio sabe o potencial que tem para oferecer à sociedade da qual ele faz parte.

Então, é com muito prazer… Só este ano… É importante, Orisvaldo, é importante, Sandes, vocês saberem: este ano nós vamos inaugurar cem escolas técnicas no Brasil. Todas as semanas eu estou inaugurando, todos os meses eu estou inaugurando, e quando chegar o dia 31 de dezembro, nós concluímos a inauguração de cem escolas técnicas no ano de 2009. Nós estamos fazendo dois terços, de tudo o que foi feito em cem anos, em apenas um ano. No ano que vem eu inauguro as outras 50 e estarão concluídas as 214.

Mas não é apenas isso. São 12 universidades federais novas, já em funcionamento, são mais quatro no Congresso Nacional para serem aprovadas, e são 104 campi, 104 extensões universitárias espalhadas pelo Brasil inteiro, tirando a universidade… levando o curso das universidades federais para o interior do País, para permitir que as cidades médias e pequenas tenham oportunidade de ter uma oferta para a juventude daquela região.

Então, eu acho que é uma pequena revolução o que está acontecendo e, na medida em que a gente muda o paradigma, quem vier depois de mim vai ter que fazer mais. No dia 31 de dezembro, quando eu for entregar o cargo para quem vier, eu vou entregar o relatório de cada Ministério, registrado em cartório. Cada ministro vai ter que me colocar o que gastou, do dia 1º de janeiro de 2003 ao dia 31 de dezembro de 2008, cada obra que foi feita, como é que ela anda, se tem 10% pronto, 20%, 30%, 40%, o que está concluído, porque eu quero entregar na mão de quem vier para a Presidência, eu quero entregar na mão dos futuros governadores, quero entregar na mão das universidades, na mão dos dirigentes sindicais, na mão da sociedade, aquilo que foi feito no Brasil. Para quê? Porque como tem muito preconceito contra mim ou tinha muito preconceito de que eu não sabia fazer as coisas, que eu não estava preparado, que eu não tinha diploma universitário, então eu quero que as pessoas saibam o seguinte: está tudo registrado em cartório. “Então, eu vou ter que fazer mais do que esse homem”. E se fizer mais do que eu, graças a Deus, é disso que o Brasil precisa.

Jornalista: Presidente, o tempo está acabando, o senhor tem uma agenda muito grande hoje aqui em Goiás. Vamos falar um pouquinho de política. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles… nesta entrevista exclusiva que o senhor está dando para a rádio Terra FM e para a rádio São Francisco, de Anápolis… o presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o sonho dele – ele sempre disse em entrevistas – que é ser governador de Goiás, um dia. A pergunta é a seguinte: o senhor abriria mão dele no Banco Central, para que em abril do ano que vem ele deixe o Banco e venha ser candidato a governador do estado?

Presidente: Bom, perguntado assim, eu diria não. Perguntado assim, eu diria não. Mas veja, eu acho que o Meirelles já tem serviços prestados ao País, que serão… é um serviço inestimável o que o Meirelles fez no Banco Central, a seriedade com que ele conduziu a economia brasileira, junto com a equipe econômica. E obviamente que o Meirelles fez um esforço: ele abandonou o cargo de deputado federal para ser o meu presidente do Banco Central, quando ele era do PSDB. Portanto, eu tenho uma dívida de gratidão muito forte com o Meirelles, por conta desse gesto dele. Agora, se o Meirelles disser para mim que quer ser candidato a governador, primeiro eu vou dizer para o Meirelles: nós precisamos saber por qual partido e saber quais são os nossos aliados, porque nós precisamos construir uma aliança política para ganhar as eleições. O Meirelles não pode ser candidato para perder as eleições. Por isso nós temos que conversar com o governador Alcides, nós temos que conversar com o PMDB, nós temos que conversar com o PR, nós temos que conversar com todos os partidos que fazem parte da base aliada do governo federal, para a gente construir… são muitos cargos em jogo: é governador do estado, vice-governador, dois senadores. Ou seja, tem cargos para a gente construir para contemplar os partidos que estão na base.

Então, se o Meirelles disser “Eu quero ser candidato”, é um processo a ser construído. Certamente, ele vai ter que conversar com o Alcides, certamente ele vai ter que conversar com o PMDB, certamente ele vai ter que conversar com os outros partidos da base aliada, e ver se a gente consegue construir uma aliança capaz de garantir, para ele, a vitória. Eu vou dizer uma coisa: se o Meirelles conduzir a economia de Goiás como ele conduziu o Banco Central, Goiás só tem a ganhar. Goiás vai ter um administrador excepcional, porque o Meirelles é muito competente.

Jornalista: O que o governo federal está fazendo para colaborar com o governo do estado e para salvar a Celg, Presidente?

Presidente: Você disse bem, salvar a Celg, você disse bem. O companheiro Alcides tem me procurado em Brasília, eu tenho falado com o Presidente do BNDES, tenho falado com o ministro Lobão, tenho falado com o Presidente da Eletrobrás. Ainda ontem, às 5h da tarde, eu estava reunido com o Lobão, ministro de Minas e Energia, e com o Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Tem um plano pronto já para a Celg. Eu penso que dentro de uma ou duas semanas, nós estaremos [teremos] concluído, para que venha aqui o Ministro de Minas e Energia, o Presidente do BNDES, fechar com o Governador a recuperação da Celg, porque é uma empresa importante, é uma empresa que tem potencial de crescimento. Agora, como foi uma empresa que tomou dinheiro emprestado a 22% ao ano, quando, na verdade, a margem de lucro dela, do setor inteiro, no Brasil, é de no máximo 15,6%, você está pagando 7% a mais do que você ganha. Além disso, na situação delicada em que ela está, não pode nem reajustar as tarifas. Então, a empresa vai ficando atrofiada, cada vez mais ela estará prejudicada, cada vez mais ela tem menos capacidade de investimento. E nós não queremos deixar a Celg quebrar. Agora, nós estamos aí com a Eletrobrás fazendo uma investigação, o Alcides tem acompanhado isso, porque nós precisamos, na hora em que tomar a decisão, tomar a decisão para recuperar de verdade. Se ela tiver funcionários de mais, nós vamos ter que mexer, se ela tiver diretores de mais tem que mexer. Porque essas coisas são assim: muita gente, no passado, utilizava as empresas públicas como cabides de emprego. E aí, as pessoas não se dão conta de que a folha de pagamento termina onerando o lucro da empresa. Então, a Eletrobrás está fazendo isso, nós temos expertise em fazer isso, e eu penso que nas próximas duas semanas o Alcides vai poder respirar mais tranqüilo porque a Celg vai estar totalmente… com o acordo feito, com potencial de crescimento, com a sua dívida resolvida. Primeiro, resolver a dívida de curto prazo, a 22%, é impagável. Nenhuma empresa no mundo vai sobreviver se tiver que pagar uma taxa de 22% do dinheiro emprestado. Eu penso que… essa dívida, são 6 bilhões, não é pouca coisa, 5,6 bilhões, não é pouca coisa essa dívida. Então, nós temos que, ao entrarmos na empresa para ajudar a recuperá-la, nós temos que ter gente da maior seriedade administrando essa empresa e com um projeto de médio prazo, com metas a serem cumpridas, para que a gente possa dar ao estado de Goiás a tranqüilidade de que a empresa está recuperada, bem gerenciada e que não vai ter mais trambiques na empresa, o que a levou ao endividamento irresponsável. O patrimônio da empresa é de R$ 184 milhões. Uma empresa que tem um patrimônio de R$ 184 milhões não pode ter uma dívida de R$ 5,6 bilhões, não pode. Então, nós vamos ajudar a resolver. Temos compromisso com o estado de Goiás, temos compromisso com o Governador, temos compromisso com o povo deste estado, vamos ajudar a resolver para que daqui a algum tempo a Celg seja uma grande empresa, admirada por todo mundo em Goiás pelos bons serviços prestados ao estado de Goiás.

Jornalista: Presidente, para encerrar, uma pergunta que os jornalistas do Brasil inteiro mandaram para o site da rádio Terra, acredito também que para o site da rádio São Francisco, para que fizéssemos para o senhor. Como o senhor está vendo a crise no Senado? Ela tem muito água para passar embaixo da ponte, ela está chegando ao final? Como o senhor analisa hoje a crise que o Senado vive, que não se vota nada, é só reunião de comissões e não se vota nenhum projeto de senador, não se vota nenhuma medida provisória?

Presidente: Eu acho que a gente poderia analisar a crise do Senado da seguinte forma: eu penso que as pessoas, no Senado, estão priorizando as coisas secundárias e deixando de lado as coisas que deveriam ser prioritárias.  Ora, se você tem uma denúncia feita pela imprensa, feita pelo Ministério Público, feita por quem quer que seja contra um ou mais senadores, o que você tem que fazer? Fazer um processo de investigação, apurar e depois decidir qual é a penalidade ou se não vai ter penalidade. O que você não pode é transformar uma denúncia na única razão de ser de 81 homens que têm a responsabilidade de representar os estados da Federação e fazer com que as coisas fluam com muita facilidade. Então, eu acho que o baixo nível dos debates no Senado, as agressões verbais, as discussões só empobrecem o Poder Legislativo brasileiro, só empobrecem. Só deixam o povo desmotivado, desesperançado, porque… ora, você pode pedir para a Polícia Federal investigar. O Sarney pediu para investigar o filho dele, o Sarney pediu para a Fundação Getúlio Vargas fazer um estudo de uma nova proposta de gerenciamento do Senado. Tem outra denúncia? Tem. Peça para o Ministério Público investigar. Mas deixe investigar e continue trabalhando, porque o importante é que as investigações não podem atrapalhar a principalidade da existência do Senado, que é votar as leis, que é aprovar coisas, que é… E na medida que ficam brigando, se acusando, se xingando, empobrece a política brasileira, porque todo mundo ali tem mais de 35 anos de idade. Portanto, eu acho que se elevassem o debate, se fosse uma coisa respeitosa, em que o jogo não fosse tão rasteiro, certamente nós não teríamos uma crise. Nós teríamos denúncias, teríamos apuração, teríamos depois o julgamento, mas as coisas estariam andando. Eu acho que o Senado está perdendo muito tempo brigando entre si, às vezes sem conversar, às vezes se ofendendo. Eu gostaria que os senadores fizessem uma reflexão sobre isso. Ninguém quer que ninguém pare de ter divergências com quem quer que seja, ninguém está pedindo para ninguém deixar de acusar a quem queira acusar, mas o que nós estamos pedindo é o seguinte: isso não pode ser a única coisa que mexa com o Senado. Tem coisas importantes no Senado para serem votadas e eu acho importante votar, independentemente do processo de apuração que continue acontecendo no Senado. Até porque o Senado tem instrumentos, tem instrumentos para fiscalizar, para processar, para cassar… já cassou tantos! Já cassou o Jader, já cassou o Antonio Carlos Magalhães, já cassou o Luiz Estevão, o Arruda. Então, o Senado tem instrumentos para isso. Então, vá fazendo o trabalho e vá fazendo a investigação. Quando tiver o veredicto final, toma a decisão.

Jornalista: A minha última colocação, Presidente. Apenas para ficar registrado, o senhor falou do seu compromisso, de seu desafio de construir 1 milhão de casas no Brasil. O governador Alcides, com as 50 mil, e o prefeito Antonio Gomide também lançou esse desafio de construir 5 mil casas durante a administração dele e os projetos, enfim, o andamento, inclusive, está sendo feito agora. É um desafio também. Mas eu queria ouvir o senhor sobre as obras do anel viário, o anel viário de Anápolis, que é também uma obra importante. O governo tem, nessa parceria com a cidade de Anápolis, desenvolvido essa obra do anel viário. Inclusive, está agora em complemento, em obras de complemento. Essa obra aí é prioridade, Presidente? Ela vai ser concluída, essa complementação das obras do anel viário?

Presidente: Ela tem que ser concluída porque é preciso facilitar o fluxo de veículos na cidade de Anápolis. Eu já vim inaugurar duas obras em Anápolis. Eu nem lembro quais foram, mas eu já vim inaugurar, duas vezes. Agora, o que eu acho é o seguinte: nós não podemos deixar de fazer uma obra que é importante, para uma cidade que tem uma população importante, para um setor em que passam muitos caminhões, muitos carros, e nós precisamos dar segurança para a sociedade. Então, essa é uma obra prioritária, nós vamos fazê-la, e eu espero que a gente possa inaugurá-la o mais rápido possível. E fico feliz pelas casas que o prefeito de Anápolis está assumindo o compromisso de construir, porque dar 5 mil casas aqui, 5 mil casas ali, daqui a pouco nós concluímos 1 milhão de casas sem dor nenhuma. Eu acho que isso é importante para o Brasil.

Jornalista: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, muito obrigado pela sua entrevista. A rádio Terra FM, a rádio mais ouvida de Goiânia, de Goiás, e a rádio São Francisco, de Anápolis. Um abraço ao prefeito Gomide, ao governador Alcides Rodrigues, que acompanharam aqui ao vivo e a cores a entrevista. Felicidades para o senhor, muita saúde, muito trabalho e o abraço de todos os goianos e goianienses, e o agradecimento por tudo o que o senhor tem feito por Goiânia, por Anápolis, por Goiás e pelo Brasil.

Jornalista: E antes que o senhor se despeça, Presidente, só para lembrar aqui – agradecendo também ao Prefeito e ao Governador – todas as segundas-feiras nós acompanhamos aqui na rádio São Francisco o “Café com o Presidente”. A gente queria agradecer muito ao senhor por ter tomado esse café hoje com a gente aqui, tão especial, em Anápolis, aqui nesta cidade tão querida. Muito obrigado e o nosso abraço da rádio São Francisco e dos frades franciscanos, que são os comandantes, os diretores aqui da emissora.

Presidente: Sandes Júnior e Lourival, eu quero primeiro agradecer a vocês, de coração, porque não é de hoje que nós conversamos. Sobretudo o Sandes, que nós já fizemos passeata juntos, já estivemos no mesmo palanque, já fizemos carreata aqui na cidade de Goiânia. Segundo, dizer aos ouvintes da rádio Terra FM e aos ouvintes da rádio São Francisco, de Anápolis, que eu acho que até a relação com a imprensa tem melhorado muito porque eu tenho feito muita entrevista, eu sou daqueles políticos que acham que não tem pergunta proibida, que não tem pergunta ofensiva, que não tem pergunta… ou seja, você responde ou não responde, você sabe ou não sabe. E eu fico feliz de estar contribuindo, neste momento, para que a imprensa brasileira possa entrevistar o presidente da República sem nenhum… nunca ninguém telefonou para você para dizer: “Qual é a pergunta que vai fazer para o presidente da República? Você só pode fazer tal pergunta.” Isso não é entrevista. Se o presidente se comportar assim, na verdade, você está enganando o povo brasileiro.

Então, eu acho importante conversar, sobretudo com radialistas. É uma coisa que me deixa muito orgulhoso porque o rádio continua sendo um dos mais extraordinários instrumentos de comunicação que o mundo… nem a TV digital, nem a internet conseguiram diminuir o impacto do rádio, porque agora as pessoas estão com rádio em casa, a dona-de-casa está cuidando do filho, a pessoa está no escritório, a pessoa está no carro, a pessoa está ouvindo uma notícia. Então, eu quero agradecer a todos os ouvintes da Terra FM e da São Francisco, e agradecer a vocês dois pelo carinho e pela gentileza. Espero que vocês possam acompanhar a gente o dia inteiro.

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