
Pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) divulgaram os resultados do projeto Bonfim em Foco, desenvolvido no distrito de Bonfim de Feira, município de Feira de Santana, BA.
O Grupo de Pesquisa Geotecnia, Recursos Naturais e Geoprocessamento, composto por Liana Barbosa, Alissandra Souza Silva, Davi Cerqueira Grilo, Glorelice Almeida Santana, Gracinete Bastos de Souza e Laina Freitas Melo, pretendia levantar as características dos recursos naturais e os materiais de construção que compõem o distrito, como descrição das rochas, formação de serras, riachos e vegetação. Mas, durante os trabalhos, a partir de depoimentos dos moradores, foram detectados aspectos que ampliaram o raio da pesquisa.
Os resultados da pesquisa foram expostos para a população
Com os relatos da memória viva da população local, foi possível mapear aspectos históricos, culturais, religiosos, econômicos, o imaginário e o cotidiano das pessoas.
Os relatos informais dos moradores foram posteriormente comparados em documentos e registros que permitiu a esquematização da linha do tempo do distrito. Isto resultou, inclusive, na produção do documentário “Bom Fim, Bonfim em Foco”.
Rochas do distrito foram catalogadas e expostas
Os registros indicam o povoamento no distrito de Bonfim de Feira desde 1783 quando houve a doação do terreno para construir a Igreja Senhor do Bonfim. A sede distrital fica localizada no alto da colina e praticamente toda a povoação do distrito fica sobre rochas.
O distrito está situado a 31 quilômetros da sede de Feira de Santana, entre a região do recôncavo e do sertão baiano. É cortado pelo Rio Ribeirão do Cavaco que deságua no Rio Jacuípe e por mais dois rios secundários – o Riacho da Mussuca e do Cabano. As principais atividades econômicas são a criação de animais, a cultura do fumo que já foi bastante significativa, e a agricultura de subsistência.
Manifestações culturais
Mas é o conhecimento popular e a religiosidade que mais chamaram a atenção dos pesquisadores. Conforme a geóloga, professora mestre e doutora da Uefs, Liana Barbosa (foto), “Bonfim de Feira é a terra das lendas e das festas religiosas. Aqui, o catolicismo é tão forte quanto também é o candomblé. O sincretismo religioso é muito comum”, diz.
Segundo os estudos, o distrito possui um monte – o topo da colina rochosa – onde se localiza uma capela e onde é local de peregrinação entre os moradores. É lá onde estão guardadas várias lendas e costumes como a troca de santos e a lenda do “Pé” e da “Carruagem”.
Algumas manifestações culturais se mantêm até hoje, cultivadas pelos moradores. A Procissão de Ramos permanece realizada com plantas medicinais. A Lavagem do Bonfim continua sendo realizada no mês de maio. A procissão de São Roque permanece viva e foi realizada recentemente. Os moradores estão se preparando para a organização da Cavalgada que deve ocorrer em breve. Existe também a festa de Santo Antônio, a caminhada até o monte na Festa de Santana, entre outras festas religiosas.
Memória arquitetônica
A pesquisa chegou à conclusão que não há uma preocupação quanto à preservação da memória arquitetônica do distrito. “Grandes casarões estão em ruínas, muitos foram derrubados, novas construções se ergueram, e nesses três anos pudemos presenciar o Casarão da Rua de Orora, um dia em pé, mas em outro desabado por falta de preservação”, lamentou Liana Barbosa.
O Casarão da Rua de Orora já foi clube de moradores. Abandonado, o espaço vinha sendo utilizado nos últimos anos por um grupo de capoeiristas. Em maio deste ano, o teto desabou e as grades de ferro, portas e janelas foram extraídas. O prédio encontra-se em ruínas.
O coreto, a Cruz de Pedra e a Igreja Senhor do Bonfim formam o principal conjunto arquitetônico. As pedras que formam o calçamento da sede do distrito são compostas por granito, rocha ígnea, rocha metamórfica, gnaisse, ardósia, quartzito e granulito. Além disso, os moradores conhecem até hoje as ruas pelos nomes antigos e não pelos nomes adotados pela prefeitura. A Rua de Orora, por exemplo, oficialmente é a Rua José Freitas.