Número de mortos em protestos no Chile chega a 23 e mais de 200 pessoas perderam visão

Protestos sacodem o Chile desde outubro de 2019.
Jovem sofreu parada cardíaca durante manifestação em Santiago. Serviço de emergência afirma que policiais continuaram a disparar balas de borracha e gás lacrimogêneo durante atendimento. Um socorrista ficou ferido.
Protestos sacodem o Chile desde outubro de 2019.
Jovem sofreu parada cardíaca durante manifestação em Santiago. Serviço de emergência afirma que policiais continuaram a disparar balas de borracha e gás lacrimogêneo durante atendimento. Um socorrista ficou ferido.

O número de mortos na crise social que sacode o Chile chegou a 23, segundo um balanço divulgado neste sábado (16/11/2019) pelo governo do país.

De acordo com a Subsecretaria do Interior, a 23ª pessoa que perdeu a vida em meio aos protestos era um homem de 29 anos, que estava na Praça Itália, no centro de Santiago, na sexta-feira, quando sofreu uma parada cardíaca. Ele foi atendido pelo Serviço de Atendimento Metropolitano (Samu) e levado ao hospital, mas não resistiu.

Depois da morte, o Samu chileno divulgou um comunicado, afirmando que a polícia continuou lançando jatos de água, disparando balas de borracha e atacando com gás lacrimogêneo, enquanto o manifestante era atendido no meio da rua. Uma integrante da equipe de resgate, inclusive, ficou ferida, segundo o órgão.

“O ataque impediu que déssemos os cuidados necessários ao paciente, nos obrigando a atrasar a reanimação e forçando a evacuação, devido à insegurança no local. Como funcionários de saúde, não podemos tolerar a atuação da força policial” diz nota do Samu.

Nenhum integrante do governo ou representante da polícia respondeu ao posicionamento do órgão.

Nesta sexta-feira, 268 pessoas foram detidas e 26 manifestantes ficaram feridos, em mais um dia de atos pelo país, que não esfriaram mesmo após o anúncio de um plebiscito para perguntar à população sobre a confecção de uma nova Constituição para o Chile.

Na sexta-feira, um balanço divulgado pelo Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) havia apontado que 22 pessoas haviam morrido durante dos protestos no Chile. Outras 2.209 sofreram ferimentos.

Segundo o instituto – um órgão estatal, mas que age de maneira independente – mais da metade dos ferimentos foram causados por tiros disparados por agentes estatais. Entre os ferimentos estão 209 casos de trauma ocular causados pelo impacto de balas de borracha ou de chumbo ou bombas de gás lacrimogêneo que atingiram os rostos dos manifestantes.

Pelo menos 6.046 foram presas até a sexta-feira, segundo o INDH, que verificou testemunhos de detenções ilegais, espancamentos, torturas e violações dos direitos humanos durante os protestos. Por essas razões, a agência entrou com 319 ações judiciais em favor de 472 vítimas, a maioria delas contra a polícia.

O aumento do preço do bilhete do metrô de Santiago foi a faísca que desencadeou na metade de outubro uma explosão social sem precedentes desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). A principal reivindicação dos manifestantes é acabar com a desigualdade de um modelo econômico neoliberal e garantir direitos fundamentais como a saúde, a aposentadoria e a educação.

Mais de 200 pessoas perderam visão em protestos no Chile

A principal associação médica do Chile anunciou nesta quinta-feira (14/11/2019) que pelo menos 230 pessoas perderam a visão, parcial ou completamente do olho afetado, devido a tiros com espingarda de pressão disparadas por agentes de segurança do Estado durante protestos no país sul-americano.

Dessas 230, pelo menos 50 pessoas precisarão de olhos protéticos, segundo o oftalmologista Patricio Meza, vice-presidente do Colégio Médico do Chile. “Isso significa que o paciente não apenas perdeu a visão, mas também o olho”, afirmou.

Estatísticas adicionais da instituição mostraram que a idade média das vítimas é de 30 anos. Na grande maioria dos casos, o ferimento foi causado pelo impacto de um projétil de chumbo ou borracha nos olhos, de acordo com a instituição universitária.

“Estamos enfrentando uma verdadeira crise de saúde, uma emergência de saúde, já que em poucos dias, em três semanas, tivemos o maior número de casos envolvendo complicações oculares graves devido a tiros no olho”, acrescentou Meza.

Segundo o especialista, a polícia “está atirando a 90 graus, ou seja, diretamente no rosto”. Ele afirma que a maioria dos feridos acusa agentes da força policial nacional, chamada de Carabineros.

O Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) chileno afirmou que condena a violência de protestantes, mas que isso não justifica o uso “indiscriminado” de espingardas de pressão pela tropa de choque.

O INDH, a ONG Anistia Internacional e o Colégio Médico do Chile têm apelado sem sucesso para que o governo proíba o uso de espingardas de pressão pela polícia desde o começo dos protestos no país.

Meza frisa que enquanto outros países respeitam protocolos sobre o uso dessas armas, “isso claramente não ocorre no Chile”.

O ministro chileno da Saúde, Jaime Manalich, anunciou um programa de “reparação ocular” para “vítimas de violência política”, que deve cobrir custos de tratamento e atendimento psicológico.

Procuradores abriram 1.089 investigações criminais sobre acusações de “violência institucional” durante as duas primeiras semanas do conflito. Dessas, 70% são direcionadas à polícia.

Mais de 20 pessoas foram mortas e 2.500 ficaram feridas desde o início dos protestos, em 18 de outubro, no que começou como uma manifestação estudantil contra o aumento das tarifas de metrô.

No entanto, desde então, a onda de protestos evoluiu para um movimento muito maior e mais amplo, com uma longa lista de demandas relacionadas à crescente disparidade financeira entre ricos e menos abastados. Os cidadãos pedem reformas nos serviços de saúde, educação, no sistema de pensões e na Constituição do país.

Os legisladores do Congresso Nacional aprovaram na madrugada desta sexta-feira um roteiro para a criação de uma nova Constituição, que substituirá a atual Carta Magna, promulgada durante o regime militar de Augusto Pinochet em 1980.

Um plebiscito será realizado em abril de 2020, perguntando aos eleitores se eles são a favor de uma nova Constituição, bem como sobre o modelo da assembleia constituinte que elaborará o texto.

*Com informações do Deutsche Welle.

Mais de 200 pessoas perderam visão em protestos no Chile. Vítimas foram atingidas por balas de borracha ou chumbo disparadas por policiais durante as manifestações, iniciadas há menos de um mês. Governo diz que vai custear tratamento de quem sofreu "violência política".
Mais de 200 pessoas perderam visão em protestos no Chile. Vítimas foram atingidas por balas de borracha ou chumbo disparadas por policiais durante as manifestações, iniciadas há menos de um mês. Governo diz que vai custear tratamento de quem sofreu “violência política”.
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