Editorial: Crise e conflito no sistema de transporte público de Feira de Santana

Operadores do transporte clandestino realizam protesto em Feira de Santana, em decorrência de disparo com arma de fogo, registrado na quarta-feira (25/01/2017), durante fiscalização da Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito de Feira de Santana (SMTT).
Operadores do transporte clandestino realizam protesto em Feira de Santana, em decorrência de disparo com arma de fogo, registrado na quarta-feira (25/01/2017), durante fiscalização da Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito de Feira de Santana (SMTT).

O recolhimento de cerca de 50 veículos da empresa Ônibus Rosa Ltda, ocorrido na sexta-feira (27/01/2017) por ordem da Justiça, é mais um episódio da interminável crise do transporte público de Feira de Santana.

Os problemas que afetam a qualidade do transporte público do município são bastante conhecidos, mas é necessário listá-los:

— Ineficiência das rotas de transporte de passageiros;

— Descumprimento de horários nas rotas de transporte de passageiros;

— Inadequada pavimentação e sinalização das rotas;

— Falta de uso da tecnologia da informação para acompanhamento do sistema por parte das empresas, poder público e usuários;

— Atuação sistemática de transporte clandestino de passageiros, em horários de demanda do serviço de transporte público;

— Fiscalização ineficiente da prefeitura no combate ao transporte clandestino de passageiros;

— Fiscalização ineficiente da prefeitura no que concerne o recolhimento de tributos por parte das empresas de transporte público;

— Tarifas com valores elevados e ônibus que não possuem sistema de refrigeração para os passageiros; e

— Terminais de ônibus pouco qualificados do ponto de vista do projeto arquitetônico.

A conjunção dos fatores conduz a uma interminável crise no sistema de transporte do município de Feria de Santana.

Propaganda enganosa

A panaceia dos ônibus novos, propagados pela administração municipal como a resolução da crise não perdurou, porque a aquisição dos ônibus resolvia parte da crise, que era uma frota envelhecida e que comprometia a segurança dos cidadãos. Mas, mesmo tendo a oportunidade de dotar todo o sistema de ônibus com ar-condicionado, ampliando o conforto dos usuários, o município não optou por essa direção, acreditando que isso encareceria a tarifa. De fato, poderia ter um impacto de poucos centavos por passagem, mas o conforto e bem-estar da população deveria ter sido a meta da gestão.

Se, na aquisição dos ônibus ocorreram falhas, observa-se que para os demais problemas não foram apresentadas soluções que resultassem em um sistema de transporte público eficiente. Sem atuar no conjunto dos problemas, a administração fracassa de forma simultânea em todos os pontos.

As falhas da prefeitura resultam na corrosão da qualidade do transporte público. Conforme observa-se a seguir:

— A fiscalização promovida pela prefeitura gerou conflito e não resolveu o problema do transporte clandestino;

— A empresa Rosa anunciou em agosto de 2016 — cerca de um ano após vencer a licitação do transporte público, em conjunto com a Auto Ônibus São João, ocorrida em 14 de gosto de 2015 — que estava parcelando o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Fica a pergunta, como uma concessionária pública não recolhe os impostos, se o serviço é regulado pelo município?;

— Em mais de uma oportunidade, as empresas São João e Rosa denunciaram perdas mensais de R$ 3 milhões, decorrentes da competição como transporte clandestino, ou seja, em um ano as empresas perderam R$ 36 milhões para o transporte clandestino. Mesmo observando o considerável volume de recursos financeiros, apenas recentemente o município iniciou uma tímida e pouco eficiente fiscalização; e

— Com relação aos demais pontos listados no início da análise, a administração municipal permanece imóvel, incapaz de articular ações que corrijam o sistema no curto, médio e longo prazo.

Conclui-se que a crise vai perdurar e que o sistema tende a passar por sistemática degradação, caso a administração mantenha o atual curso de ação, ou seja, atuando pontualmente e não de forma articulada, com a finalidade de prover um sistema eficiente de transporte público.

*Carlos Augusto é cientista social e jornalista.

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Sobre Carlos Augusto, diretor do Jornal Grande Bahia 10723 artigos
Carlos Augusto é Mestre em Ciências Sociais, na área de concentração da cultura, desigualdades e desenvolvimento, através do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Ensino Superior da Cidade de Feira de Santana (FAESF/UNEF) e Ex-aluno Especial do Programa de Doutorado em Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua como jornalista e cientista social, é filiado à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ, Reg. Nº 14.405), Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ, Reg. Nº 4.518) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI Bahia), dirige e edita o Jornal Grande Bahia (JGB), além de atuar como venerável mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Maçônica ∴ Cavaleiros de York.