Gautama ficou 49 dias em meditação até o Despertar. A primeira semana Ele passou embaixo da árvore; na segunda, permaneceu de pé, contemplando fixamente a figueira em profunda gratidão.
Na peregrinação espiritual que fizemos pelo Oriente, eu e minha consorte, a muito amada Cecília, tivemos a felicidade de visitar um dos lugares mais sagrados do mundo Terra: a cidade santuário de Bodhgaya, no estado de Bihar, leste da Índia.
Este é um dos principais locais de peregrinação dos budistas e de todos os buscadores da Verdade. Pois ali, sentado debaixo da Árvore Bodhi (Bodhi Tree), o príncipe Sidarta Gautama alcançou a iluminação.
Foi assim: no dia em que cumpria 35 anos, na lua cheia do mês de maio de 580 a.C., sentado debaixo de uma enorme árvore perto de um riacho, o príncipe Sidarta alcançou a sua iluminação. Dissolveram-se os últimos véus que cobriam sua mente, desapareceu a falsa percepção de separação entre energia e espaço superior, e isso lhe permitiu converter-se em consciência intemporal e onisciente.
Conheceu tudo com cada átomo do seu corpo e foi uno com eles. Ele não somente compreendeu a essência da vida do universo, como percebeu que a sua própria vida estava respirando em perfeita harmonia com todo o ritmo cósmico.
Compreendeu totalmente a lei da causalidade: o destino de toda a humanidade que permeia as três existências da vida. Com a iluminação, ele havia sem dúvida encontrado o meio de superar todos os sofrimentos humanos — o nascimento, a velhice, a doença e a morte.
Sakyamuni percebeu que os sofrimentos provêm das ilusões e da natureza obscura dos homens ocultarem o estado de Buda que todos possuem. E o que havia experimentado estava além da descrição por palavras, embora não fosse nada sobrenatural ou além da capacidade humana.
Ele se tornou o Buda. Buda significa o Desperto, o Iluminado. Neste dia se revelou ao Buda Sakyamuni a sua missão de Instrutor Espiritual da humanidade.
Esses feitos aconteceram em Bodhigaya, cidade que abriga uma complexa rede de templos e lugares de adoração. Todavia, o ponto de convergência central é, sem dúvida, uma árvore: a figueira de frondosa copa onde, sob a sua sombra, Sidarta Gautama se tornou o Senhor Buda.
Gautama ficou 49 dias em meditação até o Despertar. A primeira semana Ele passou embaixo da árvore; na segunda, permaneceu de pé, contemplando fixamente a figueira em profunda gratidão. Depois caminhou, e onde o Tathágata pisava nascia uma linda flor de lótus.
Neste sacro lugar, as escolas budistas de diversas nações chegam em comitiva e, contritos, meditam e realizam as suas práticas espirituais. Tivemos a oportunidade de presenciar um singelo ritual: uma monja noviça tendo a sua cabeça raspada, como sinal de desapego e humildade. Era uma cerimônia pública, à qual assistimos respeitosamente.
A atmosfera do ambiente é totalmente zen, isto é, tranquila, mística, contemplativa, sem multidões e empurra-empurra, apesar da importância do sítio religioso.
Bodhigaya concentra lindos e artísticos templos budistas de diversas nações. Visitamos os templos e mosteiros do Japão, Coreia, Tailândia e Butão. Uma grande delegação de monges butaneses chegaram naquele dia à cidade santa. Ordeiros, acamparam nos jardins do mosteiro e, logo na manhã seguinte, saíram em grupo para faxinar a pequena Bodhigaya, incluindo as margens do sagrado rio Falgu, de onde o príncipe Gautama avistou a lendária árvore.
Como resistiu ao tempo esta figueira santa? Contam que a atual Árvore Bodhi é filha da original, fruto de uma muda desta, trazida do Sri Lanka. Portanto, tem o seu sagrado gene.
Sua história está relacionada ao Rei Asoka, o primeiro soberano indiano a se converter ao budismo, que tinha especial reverência pela Árvore Bodhi. Entretanto, a sua esposa e rainha, de nome Tissarakkhā, enciumada matou a árvore.
No mesmo lugar ela foi replantada, e continua a ser lugar de culto a centenas de anos.
Monges zeladores da Árvore Bodhi catam as folhas que caem, numa permanente renovação. Aliás, antes da folha tocar o chão, pressurosas mãos ainda a recolhem, em pleno ar.
Pedimos uma daquelas santíssimas relíquias de lembrança, para trazermos ao nosso longínquo país preciosa joia do reino vegetal. O sorridente e solicito guardião da Árvore Bodhi nos concedeu o obséquio (duas!).
Em feitio de oração agradecemos comovidos tal gesto. Deste dia em diante guardamos as sagradas folhas no livro santo — e o Senhor Buda, para sempre, dentro do coração.
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