Itamaraty convoca embaixador em Tel Aviv, chama de desproporcional a ofensiva militar em Gaza e irrita Israel, que qualifica declaração como “estímulo ao terrorismo” e diz que Brasil é “anão diplomático”.
A diplomacia brasileira entrou em rota de atrito nesta quinta-feira (24/07/2014) com Israel, que respondeu duramente às críticas do Itamaraty à atual ofensiva militar na Faixa de Gaza e à convocação do embaixador em Tel Aviv para consultas em Brasília.
Na última semana, o Brasil publicou duas notas sobre a crise em Gaza. A última delas, da noite de quarta-feira (23/07) e mais incisiva, condena “energicamente o uso desproporcional da força por Israel” e considera “inaceitável a escalada de violência”.
As críticas foram mal recebidas. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores israelense se diz desapontado com a convocação do embaixador brasileiro e considera que a decisão ignora o direito de Israel de se defender.
“Tais medidas não contribuem para promover a calma e a estabilidade na região. Em vez disso, eles estimulam o terrorismo, e, naturalmente, afetam a capacidade do Brasil de exercer influência”, diz o texto assinado pelo porta-voz Yigal Palmor.
Segundo o jornal Jerusalem Post, Palmor disse ainda que “essa é uma demonstração lamentável de por que o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua a ser um anão diplomático”. A declaração teria causado mal-estar no Itamaraty, de acordo com a imprensa brasileira.
Chanceler diz que escalada de violência por parte de Israel é desproporcional e violenta
Nesta quinta-feira (24/07/2014), num evento em São Paulo, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo tentou minimizar a crise, mas sustentou as críticas feitas e lembrou que o Brasil, na nota do dia 17 de julho, também havia condenando os ataques do Hamas.
“Condenamos a desproporcionalidade da reação de Israel, com a morte de cerca de 700 pessoas, dos quais mais ou menos 70% são civis, e entre os quais muitas mulheres, crianças e idosos. Realmente, não é aceitável um ataque que leve a tal número de mortes de crianças, mulheres e civis”, disse o ministro.
Figueiredo ainda rebateu afirmação do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel: “Eu devo dizer que o Brasil é um dos 11 países do mundo que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU. E temos um histórico de cooperação pela paz e ações pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles, seguramente”, reagiu o chanceler.
Segundo Figueiredo, porém, as declarações do porta-voz da chancelaria israelense não devem abalar as relações de amizade entre os dois países.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, defendeu hoje (24) a posição do governo brasileiro que, em nota divulgada ontem (23), condenou “energicamente o uso desproporcional da força” por Israel em conflito na Faixa de Gaza.
“Condenamos a desproporcionalidade da reação de Israel, com a morte de cerca de 700 pessoas, dos quais mais ou menos 70% são civis, e entre os quais muitas mulheres, crianças e idosos. Realmente, não é aceitável um ataque que leve a tal número de mortes de crianças, mulheres e civis”, disse o ministro. “E é sobre esse fato que essa nova nota fala”, ressaltou Figueiredo, após participar, em São Paulo, de evento na Fundação Getulio Vargas.
O ministro lembrou que, na semana passada, o Itamaraty já havia divulgado nota condenando o movimento islâmico Hamas pelos foguetes lançados contra Israel, e também Israel pelo ataque à Faixa de Gaza. “Israel se queixa que, na última nota, não repetimos a condenação que já tínhamos feito. A condenação que já tínhamos feito continua somos absolutamente contrários ao fato de o Hamas soltar foguetes contra Israel. Isso se mantém. Não há dúvida. Não pode haver dúvida disso”, afirmou Figueiredo.
Ele acrescentou que a última nota do Itamaraty não omite nada que foi dito antes. “Ao contrário,a gente pede o cessar-fogo imediato. Cessar-fogo quer dizer o quê? [Cessarem] os ataques das duas partes. Não há cessar-fogo unilateral, não é isso que a gente pede. A gente pede que as duas partes parem os ataques. Isso permanece.”
Figueiredo rebateu ainda afirmação do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, que, segundo o jornal The Jerusalem Post, classificou o Brasil de “anão diplomático”, apesar de sua posição econômica e cultural. “O que eu li é que o Brasil é um gigante econômico e cultural, e é um anão diplomático. Eu devo dizer que o Brasil é um dos poucos países do mundo, um dos 11 países do mundo, que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU [Organização das Nações Unidas]. E temos um histórico de cooperação pela paz e ações pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles, seguramente”, reagiu o chanceler.
Segundo Figueiredo, as declarações do porta-voz da Chancelaria israelense não devem, porém, estremecer as relações de amizade entre os dois países. “Países têm o direito de discordar. E nós estamos usando o nosso direito de sinalizar para Israel que achamos inaceitável a morte de mulheres e crianças, mas não contestamos o direito de Israel de se defender. Jamais contestamos isso. O que contestamos é a desproporcionalidade das coisas”, destacou.
O chanceler também defendeu a posição brasileira assumida no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. O Brasil votou favoravelmente à condenação da atual ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza e à criação de uma comissão internacional para investigar todas as violações e julgar os responsáveis.
“A maioria apoiou, inclusive a América Latina inteira. Nós estamos junto da nossa região e apoiamos, neste caso, uma investigação internacional independente para determinar o que aconteceu, o que está acontecendo. Eu acho razoável haver essa investigação internacional independente, e foi a favor disso que nós nos manifestamos.”
*Com informações do Deutsche Welle.
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