2011: a Europa sob o fardo da dívida

Planos de ajuda, cortes de despesas, protestos, governos que caem: a crise da dívida soberana abala a Europa e as repercussões são sentidas na Suíça. 

Para o economista suíço Mauro Baranzini, a única saída é restaurar a competitividade dos países mediterrâneos. Entrevista swissinfo.ch.

Ao anunciar as medidas de austeridade do novo governo italiano em 4 de dezembro, a ministra do Trabalho, Esla Fornero, começou a chorar. Uma cena simbólica que ilustra os sacrifícios impostos à população dos países mais atingidos pela crise da dívida. Os membros da União Europeia multiplicam encontros de cúpula, mas não se sabe ainda como eles conseguirão evitar o contágio e salvar a zona euro. A próxima data “fatídica” é a cúpula europeia de 1° e 2 de março próximo.

Para analisar a situação econômica do continente e as perspectivas na Suíça, swissinfo.ch entrevistou Mauro Baranzini, professor de economia na Universidade da Suíça Italiana.

É possível que a Europa entre em recessão?

Mauro Baranzini: Provavelmente sim em alguns países europeus, especialmente os que são confrontados a cortes drásticos das despesas públicas. Para o ano próximo, o KOF (Centro de Pesquisas Conjunturais da Escola Politécnica Federal de Zurique) prevê um aumento do PIB de 0,6% para o conjunto dos países da UE. Mas esse crescimento deve-se, sobretudo, à Alemanha, onde deve chegar a mais de 2%. Para a França, Itália e o Reino Unido esperamos, em comparação, uma taxa de crescimento ligeiramente negativa.

Em 2011, apenas a Alemanha e alguns países pequenos conseguiram se sair bem. A Alemanha conseguiu conter o déficit a 1% do seu PIB e registrou um excedente de mais de 5% da sua conta corrente, isto é, da balança comercial e a dos serviços. Já a França apresentou um déficit de 6,5% em relação ao seu PIB e uma balança de -2,4% da sua conta corrente.

A crise da dívida continua a pesar sobre as perspectivas econômicas na Europa. O que o senhor pensa das medidas de rigor e controle de déficit aprovadas em 9 de dezembro de 2011 em Bruxelas por 26 países europeus?

M. B.: As medidas, que prevêm uma redução do déficit em médio prazo, são boas, pelo menos no papel. Mas elas não fazem mais do que resolver o problema do endividamento que, atualmente, é apenas insuportável para a Grécia. De fato, a Espanha e Portugal não têm uma grande dívida pública. Também na Itália o endividamento não é algo assustador, mesmo se já chega a 120% do PIB. Assustador é a recessão que está chegando e a perda de competitividade da economia italiana.

Acho que o principal problema dos países mediterrâneos está justamente ligado a sua forte perda de competitividade desde que eles adotaram o euro, em janeiro de 2002. Esses países não conseguem mais exportar como antes e acumulam, ano após ano, fortes déficits de conta corrente. A Itália, por exemplo, tinha ainda um excedente de mais de 4% no início dos anos 1990, enquanto que este caiu agora a -4%.

Quais as soluções que o senhor recomendaria para aumentar a competitividade desses países?

M. B.: Dada a situação atual, uma solução seria manter uma zona euro para os países que passam por problemas consideráveis de competitividade, uma zona que poderia englobar até mesmo a França. A Alemanha e alguns outros países que eu definiria como “virtuosos” – como a Holanda e a Áustria – poderiam, ao invés, abandonar o euro para criar uma nova zona, digamos uma zona “marco” (do marco alemão, a antiga moeda germânica).

Dessa forma poderíamos contornar o veto imposto pela Alemanha ao Banco Central Europeu de emitir moeda para resolver os problemas de liquidez dos países europeus. A partir de um euro mais fraco, essas nações poderiam impulsionar suas exportações e encontrar as condições necessárias para o seu desenvolvimento. Não podemos esquecer que eles já haviam demonstrado no passado uma grande capacidade de crescimento.

Essa opção parece ser a falência do grande projeto do euro. Em sua opinião, ela seria viável, politicamente? 

M. B.: Essa solução parece difícil, mas talvez seja a menos pior para salvar a coesão da União Europeia. Nos próximos anos, os políticos serão confrontados em todo caso a questões fundamentais para o futuro da Europa.

Será, por exemplo, estabelecer quais sacrifícios a Alemanha e outras nações “virtuosas” estarão dispostas a fazer para manter a grande zona euro atual. É preciso saber se o contribuinte alemão está disposto a colocar na mesa 500 bilhões de euros ou até mais para ajudar as economias em dificuldade.

Até que ponto a crise da dívida soberana e as tendências de recessão no interior da UE vão pesar sobre a evolução econômica na Suíça?

M. B.: A economia suíça, como prevê o KOF, deverá se contentar com um crescimento muito fraco neste ano, mas ela não deverá entrar em recessão. A Suíça, nos últimos anos, já conseguiu diversificar bastante suas exportações para os Estados Unidos, China, Japão e outros países do extremo oriente. São muitos países com os quais ela tem um balanço comercial positivo.

Como é que a Suíça consegue se sair melhor do que muitos outros países? 

M. B.: Em primeiro lugar, é precisamente devido à sua capacidade de diversificação. Pois a pequena Suíça consegue reagir mais rapidamente do que outros países às dificuldades que surgem inesperadamente.

Em segundo lugar, e isso não é a menor das razões, suas finanças públicas são bastante sólidas e permitem ao Estado manter baixo o nível de impostos. Não podemos esquecer que, por exemplo, o imposto sobre circulação de mercadorias é de aproximadamente 8% na Suíça, enquanto que outros países vizinhos têm entre 20 a 24%.

A taxa de câmbio de 1 euro por 1.20 francos, imposta desde setembro de 2011 pelo Banco Nacional Suíço, seria suficiente para apoiar as exportações suíças no futuro?

M. B.: Acho que sim. Apesar do enfraquecimento do euro, as exportações suíças aumentaram em 10% durante os dez primeiros meses de 2011, em termos de volume. Em termos de volumes de negócios, o aumento foi de apenas 2%, mas é um bom resultado levando-se em conta o contexto atual. Temos setores que continuam em boa situação: a relojoaria, mas também a indústria de máquinas de precisão, a indústria farmacêutica, a indústria química, os serviços bancários e as seguradoras. O euro a 1.20 francos parece atualmente a corresponder ao compromisso helvético habitual e justo.

*Com informações: Armando Mombelli, swissinfo.ch

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