Atriz Glória Pires interpreta Dona Lindu no filme ‘Lula o filho do Brasil’

Glória Pires estreou na televisão com apenas cinco anos. Desenvolveu uma das carreiras mais sólidas e respeitadas da TV brasileira, atuando em inúmeras novelas e minisséries. Estreou no cinema em 1981, em Índia, a Filha do Sol, com direção de Fábio Barreto, com quem voltou a trabalhar em O Quatrilho (1995). Entre seus filmes destacam-se: Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos, Pequeno Dicionário Amoroso, de Sandra Werneck. Sob a direção de Daniel Filho trabalhou em A Partilha, Se Eu Fosse Você I e II e O Primo Basílio.

Como você recebeu o convite para interpretar Dona Lindu?

Eu estava em Paris quando Fabio me ligou, e de certa forma, ‘me intimou’ para o papel. Confesso que fiquei meio perplexa, com o pé atrás: fazer um filme sobre o presidente da República em dois mandatos? Ele falou do livro da Denise Paraná, da importância de Dona Lindu na vida do Lula e me mandou o livro. Quando acabei de ler, fiquei muito impressionada e conquistada: eu não sabia nada daquela história tão forte e tão brasileira. O passo seguinte foi ler o roteiro e gostei muito. Além de bem-escrito, era muito equilibrado – tem cenas reais, outras que fazem você embarcar no sonho. A história era redonda, emocionante, e, sobretudo verdadeira. Me conquistou.

Lula é um personagem cercado por um mar de referências, enquanto praticamente não existem referências sobre Dona Lindu. Como você trabalhou essa falta em cima de uma personagem real?

Ao voltar ao Brasil, no final de 2008, nos reunimos com a família – de um lado, Fábio, Paula, Ricardo, Milhem e eu, do outro, filhos, netos, parentes. Foi muito emocionante, porque não encontramos apenas irmãos de sangue, mas pessoas ligadas por uma história muito tocante, em um ambiente muito rico e envolvente. Todos os filhos choram quando falam de Dona Lindu. Peguei o que pude de pessoas que a conheceram, fui juntando partes para montar o quebra-cabeça. E surgiu uma mulher símbolo de força e de intuição feminina. Ela não tinha estudo, instrução, mas tinha muita sabedoria e sabia que o estudo era a chave para um futuro melhor.

E que retrato você formou de Dona Lindu?

Ouvi opiniões muito variadas, mas havia um ponto unânime: era uma pessoa muito sincera, confiante e extremamente forte. Lula nasceu quando ela tinha perto dos 30 anos. Era a época da grande seca, a família vivia com muitas dificuldades, e o marido foi para São Paulo tentar uma vida melhor, como tantos outros nordestinos. Ele deixou Lindu grávida de Lula, e talvez por isso ela tenha desenvolvido uma relação tão especial com ele. Em uma volta do Aristides, o marido, ela engravidou novamente. Em 1952, com sete filhos, ela foi para São Paulo de pau-de-arara, uma viagem de 13 dias, – levando de um bebê de colo a uma mocinha. Ao chegar ao destino, ela descobre que Aristides tinha outra mulher, outra família, e mesmo assim eles viveram um bom tempo na mesma cidade até a situação ficar insustentável: Aristides tornara-se alcoólatra, era muito violento com as crianças, queria impedir que estudassem. D. Lindu decide deixar Santos e ir com todos os filhos para São Paulo tentar outra vida – e consegue.

Por todos esses aspectos – pelo fato de ser uma personagem real, tão forte, corajosa, e ainda mãe do presidente da República – você sentiu uma grande responsabilidade ao assumir o papel?

Sem dúvida. É muita responsabilidade interpretar alguém que está registrado na memória das pessoas. Mas você também tem mais chances de chegar mais perto da pessoa real. É impossível imaginar o que ela não passou para manter a família unida e na linha, com filhos de idades tão diferentes. Ela é uma personagem importantíssima, sem dúvida, mas também havia espaço para criar alguma coisa.

O filme começa no Nordeste, justamente com a saída de Aristides e o nascimento de Lula. Como foram as filmagens?

Foi muito importante ter começado as filmagens no local em que tudo aconteceu nos anos 40 e 50. Ter sentido o ambiente, o clima de onde aquela história começou. Durante as filmagens, nos desligamos de nossas vidas, tínhamos mais tempo para trabalhar e de certa forma criar um clima de família, que foi muito positivo para as filmagens. Além disso, contei com Sérgio Penna, o preparador de elenco. Pela primeira vez, tive esse tipo de suporte, que valia como um retorno do que eu estava fazendo, o que eu estava passando e principalmente o que estava faltando. Com apoio do Sérgio essa família do elenco surgiu e cresceu.

Você acompanhou a escolha do Rui Ricardo?

A escolha do Rui foi muito emocionante – ao ver o teste fiquei estarrecida com uma coisa física muito evidente. Mas além deste lado físico, ele é um excelente ator, as pessoas vão ficar impressionadas. Podem achar que é imitação, mas não é: ele atua de uma forma muito verdadeira.

D. Lindu vive cenas de muita tensão com Milhem Cortaz.

Milhem é um grande ator, nunca tínhamos trabalho juntos. Ele faz um trabalho muito intenso, muito profundo. Não tivemos muitas seqüências, mas travamos uma boa convivência no período que antecedeu as filmagens. Tivemos um tempo bom na locação, se criou um laço importante.

Lula é um filme com muitos momentos emocionantes. Qual o mais emocionante para você?

Para mim a seqüência-prêmio é a que ele faz o discurso no estádio de Vila Euclides. Ninguém estava esperando aquela quantidade de gente, e Lula se viu sem estrutura, sem palanque, sem microfone. A solução foi improvisar: Lula faz o discurso pedindo às pessoas que repitam o que ele está dizendo para que todos saibam o que está sendo dito. É realmente muito emocionante.

Como foi contracenar pela primeira vez com a Cleo, que interpreta Lurdes, sua primeira nora?

Eu e Cleo somos mãe e filha, mas temos uma relação muito forte de amizade. A nossa diferença de idade -19 anos – não é tão grande. Tenho total confiança nela e ela em mim. Trabalhamos juntas poucos dias, todos muito prazerosos. Para mim, foi muito emocionante vê-la atuar, mesmo sendo ator e guardando uma certa distância, há momentos em que a atuação toca algo de verdade dentro de você. A cena do hospital foi muito forte.

Como você se sente por ter participado do filme, ter desempenhado papel tão emblemático de mulher, de mãe?

Acho que esta é uma história que precisava ser contada. Nós, brasileiros, precisamos criar o hábito de contar fatos de nossa história. Conhecemos fatos tão bobos da história de outros países e desconhecemos fatos da nossa própria História. Fiquei muito feliz com o convite do Fábio para interpretar uma personagem com quem me identifico. Dona Lindu é o arquétipo da mulher que gera e alimenta os filhos. O Brasil está florido de mulheres generosas como Dona Lindu, que vão adiante e conseguem uma vida melhor para seus filhos.

Você estreou no cinema com Fábio, em Índia, a filha do Sol, e se reencontraram em O Quatrilho, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Como foi este novo reencontro?

Fábio está em um grande momento de sua carreira. Fez um filme importante, político no sentido de que toda ação gera uma atitude política, mas sem ser panfletário, chapa-branca. A história é tão incrível, com lances tão dramáticos, que poderia estar próxima de um dramalhão. Acho que Fábio conseguiu o distanciamento certo, próximo da realidade, sem romancear de uma forma piegas. Fiquei muito feliz com o trabalho.

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